Sobre o relativismo moral

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Usada erroneamente como sinônimo de cultura, desde os filósofos clássicos a moral é concebida como um dever ser, um manual de conduta, instruções de uso da máquina chamada Homem. Acontece que, com o triunfo do positivismo e das ideologias seculares, cada vez mais as normas maiores estão sendo relativizadas de tal maneira, que é como se não existisse qualquer norma. Mas, afinal, o que devemos compreender como moral?

C.S. Lewis nos atenta para os três componentes da moralidade. O primeiro é a conduta leal e a harmonia entre os indivíduos. O segundo pode ser chamado de harmonização das coisas dentro de cada indivíduo. O terceiro é o objetivo geral da vida humana como um todo. Em síntese, tais componentes norteiam as normas morais, que são regidas de um caráter objetivo.

Um erro muito comum das pessoas é enxergar a moral como um conjunto de regras em que o homem é o legislador final, podendo tais regras serem adulteradas ao bel-prazer humano. É isso que o relativismo moral propõe: não existe Certo e Errado; existe, apenas, concepções diferentes por parte de indivíduos, culturas e grupos.

Partindo do pressuposto de que o Certo não é uma entidade real, poderiam, então, os nazistas estarem corretos, já que houve uma grande aceitação popular dos ideais por parte dos alemães? Deveria, então, a humanidade civilizada deixar de repudiar as tribos indígenas que sacrificam recém-nascidos deficientes? Não é reprovável o fato de algumas sociedades africanas perseguirem albinos?

Ora, se o Certo pode ser definido arbitrariamente por indivíduos ou grupos, não há nada de errado com as práticas anteriormente mencionadas, tendo em vista que essas pessoas apenas possuíram ou possuem concepções de justiça diferentes das suas. Ao acreditar que tais condutas são reprováveis em qualquer circunstância, você está (inconscientemente) comparando com a Moral Verdadeira e admitindo que existe algo que se pode chamar de Certo, independentemente do que as pessoas pensem. A partir desta noção surge o questionamento: como definir quais condutas são verdadeiramente corretas?

A resposta é simples, embora possa causar um alto teor de incompreensão. Chama-se Lei Natural. Assim como os corpos são regidos pela lei da gravitação, e os organismos pela lei da biologia, o homem também possui uma espécie de lei própria, embora lhe seja facultado optar pela desobediência dela (e é o que frequentemente ocorre). Ela está além dos fatos comuns, do comportamento humano e é verdadeira, já que não foi elaborada por nenhum de nós, mas que tão somente nos sentimos obrigados a cumprir.

Em qualquer lugar do mundo os seres humanos possuem uma noção de que devem se comportar de uma determinada maneira, e se sentem mal ao desobedecer a Lei Natural. É inegável que existem acentuadas diferenças culturais nos mais diversos povos, mas nunca houve uma diferença moral relevante. Explico.

Ao comparar os ensinamentos morais dos antigos egípcios, dos babilônios, dos hindus, dos chineses, dos gregos e dos romanos, perceberá que há um imenso grau de semelhança entre eles. Para exemplificar: em qualquer civilização, a coragem é uma virtude, de uma forma que ninguém admira aquele que foge do campo de batalha. Em qualquer civilização, a traição perante aqueles que lhe fazem o bem é repudiada. Em qualquer civilização, o egoísmo é rejeitado. Em qualquer civilização, o altruísmo é concebido como uma virtude. Em qualquer civilização, o assassinato é ruim e cuidar da família é bom (de uma maneira geral).

Até mesmo falando sobre o casamento, que é um assunto que gera controvérsias entre os povos, percebemos que não há uma diferença significativa. Os povos discordam acerca do número de esposas que um homem pode ter, se uma ou quatro; mas sempre concordaram que ele não pode simplesmente se relacionar com qualquer mulher que lhe suscitar desejo.

C.S. Lewis faz um estudo detalhado acerca do Tao, termo que ele utiliza para designar este sistema de valores universais. Quem possuir interesse deve efetuar a leitura da sua magnifica obra A Abolição do Homem.

É importante diferenciar Lei Natural de instinto. Um homem comprometido, ao visualizar uma moça muito bela, pode, instintivamente, sentir desejo de se relacionar com ela. Mas a voz da consciência informará que aquela atitude é inadequada. É essa voz da consciência que denominamos Lei Natural: um freio aos instintos inapropriados ao momento. A Lei Natural nos informa a melodia a ser tocada; nossos instintos são meras teclas.

Encerrando o assunto “Lei da Natureza Humana”, cabe ressaltar, novamente, que o fato de muitas pessoas não a cumprirem, não significa que ela não exista. Inclusive, nenhum de nós segue a Lei à risca. A existência dela é verificada pelo nosso próprio auto-consciente, não precisando nos ser ensinado por qualquer pessoa. Não é fruto da criação humana.

Uma experiência interessante para observar que acreditamos nela é quando, no momento em que alguém fala que erramos, elaboramos uma série de desculpas para justificar aquele ato, mesmo que, no fundo, a verdade seja conhecida. Admitir a violação da Moral é uma tarefa por vezes complicada, mas ninguém consegue fugir da própria consciência.

Não posso, também, deixar de comentar sobre o perigo em aderir ao relativismo moral. Pós-modernos, que são verdadeiros negacionistas da Verdade, atuam o tempo inteiro a fim de manipular a ordem natural e subverter as relações humanas. Acham os valores universais ruins, ultrapassados e pretendem substituir por algo melhor. Esse algo melhor será sempre uma abstração elaborada. Ao invés de descrever a moral, como fizeram notáveis filósofos, essas pessoas simplesmente criam “novas morais”, quando não advogam por um estado de completa amoralidade (e incivilidade).

Além de negarem a noção consolidada de universalismo filosófico, que diz que fatos universais podem ser conhecidos, os pós-modernos também criam problemas na linguagem quando abusam do instrumento da Novilíngua (idioma fictício criado na obra literária distópica 1984, de George Orwell) e assassinam a língua portuguesa, principalmente através do uso do artifício do duplipensar. 

Já não bastasse, são também inimigos da Ciência, tendo em vista que tratam conceitos objetivos consolidados como meras construções sociais, citando como exemplo a Teoria Queer, que nega que existam papéis sexuais biologicamente inseridos na Natureza Humana e afirma que tudo pode ser moldado socialmente, dando assim ensejo às mais tenebrosas psicopatias humanas e incentivando tudo aquilo que afronta à Moralidade. Toda essa anomalia é proporcionada pela negação da Verdade.


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