O fenômeno do Conservadorismo Popular Brasileiro

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O conservadorismo é sempre muito difícil de ser conceituado, tendo em vista que não é um modelo político, mas apenas um estado de espírito e um modo de enxergar a sociedade. É correto afirmar que não existe um conservadorismo, mas diversos conservadorismos, cada qual adaptado para uma realidade distinta. O conservadorismo, muitas vezes definido erroneamente como sentimento de satisfação com a atualidade, se traduz verdadeiramente de uma forma completamente distinta e até oposta.

Muito longe de defender abstrações teóricas e modelos revolucionários, o conservador defende os grandes pilares da civilização, destacando-se a continuidade da instituição familiar, da comunidade local e da religião. Conservadores acreditam em uma ordem transcendente, na manutenção dos costumes que passaram pelo teste do tempo e em valores morais objetivos.

O conservadorismo advém de um sentimento que toda pessoa madura compartilha com facilidade: a consciência de que as coisas admiráveis são facilmente destruídas, mas não facilmente criadas.

Roger Scruton

Há diversos escritores conservadores que fazem um minucioso trabalho de análise histórica e exposição de teorias e princípios. Explicam, por exemplo, as razões da prudência e do empirismo político serem fundamentais e a razão pela qual devemos conservar as instituições sociais. Não é o foco do presente texto.

Mesmo confessando que tais intelectuais fazem um brilhante trabalho de exposição (sendo eu, inclusive, um grande admirador de muitos), afirmo categoricamente que mais de 99% dos conservadores nunca tiveram acesso a tais obras, mas nem por isso deixam de ser conservadores.

Não existe um manual ou uma receita de bolo informando quais posicionamentos políticos você precisa defender para ser um conservador, mas tão somente deve possuir a percepção transcendente e o senso da ordem e da justiça. Por isso é um estado de espírito e não uma ideologia política.

Tendo isso em vista, resolvi escrever sobre o conservadorismo popular, um termo cunhado pelo maior expoente do conservadorismo americano, Russell Kirk, que se difere bastante do conservadorismo intelectual e é a base da sociedade brasileira, embora enfrentemos a ditadura da minoria barulhenta. O conservador popular nunca efetuou a leitura de um livro relacionado e muitas vezes não sabe o que é conservadorismo. Tal fragmento é representado, em sua maioria, pela população classe média, média baixa e pobre.

Seu José, que mora no interior, é analfabeto, detesta cultura da impunidade, subversão moral e defende com afinco a instituição familiar. Dona Maria, moradora da Zona Norte do Rio de Janeiro, acorda muito cedo para trabalhar, cristã fervorosa e está inconformada com o tráfico de drogas que perverte as crianças em sua comunidade. Esses são exemplos muito comuns de conservadores populares.

Resultado de imagem para a coisa mais extraordinaria do mundo é um homem comum

Um pequeno experimento popular pode facilmente atestar que as palavras “socialismo”, “comunismo” e “progressismo” são prontamente rejeitadas pela parcela da população que as conhece. Grande parte da população prefere “o diabo que conhece ao diabo que desconhece”, e essa é a essência do conservadorismo.

Se o Brasil possui uma parcela muito significativa de conservadores, por que candidatos de esquerda são frequentemente eleitos? Qual a razão de vermos tanta degeneração moral na grande mídia?

Há razões que justificam esse paradoxo:

  1. A maioria dos brasileiros, embora conservadora em muitas questões, é incapaz de distinguir candidatos conservadores de esquerdistas moderados ou radicais. O que é bastante comum, tendo em vista que muitos travestem suas reais intenções e a população acaba não percebendo os riscos prováveis de uma nova legislação.
  2. “Farinha pouca, meu pirão primeiro”, como diz um sábio ditado popular. Uma grande parcela dos brasileiros, embora conservadora em muitas questões, é atraída pelo assistencialismo, retratando a famigerada compra indireta de votos. Esta parcela da população acaba não tendo noção das implicações a longo prazo deste tipo de política.
  3. Não sofremos com a preocupação do Alexis de Tocqueville em relação à “ditadura da maioria”, mas com o contrário dela. Representações de minorias como o Movimento Negro, Movimento Vegano, Movimento Feminista, Movimento LGBT, Movimento Ambientalista e outros, são extremamente barulhentas, intimidam políticos e recebem espaço dentro da grande mídia.

“Só porque meia dúzia de gafanhotos faz ressoar seu incomodo zumbido sobre toda a pastagem, enquanto milhares de cabeças de gado ruminam em silêncio, não concluam que aqueles que fazem barulho são os únicos habitantes do campo; ou que são maiores em número; ou, ainda, que sejam mais do que um pequeno grupo de insetos insiginificantes mas barulhentos.”

Edmund Burke

Reparem que, em relação ao item 3, já percebemos uma severa reação da população. Nos dois últimos anos, o “Gigante Conservador” acordou e vem atordoando este tipo de imposição subversiva. A reação ostensiva ao comercial do Boticário, à exposição do Santander, ao progressismo das novelas da Rede Globo e ao incesto exibido em Rede Nacional, mostram que o espírito de grande parte da população brasileira é conservador. A mesma população que há anos vem repudiando a Ideologia de Gênero e a Teologia da Libertação.

Há de constar que o conservadorismo não exime ninguém de pecar e atentar contra a moral. Sim, conservadores não são os paladinos da santidade. E não se propõem a ser. Inclusive, há mesmo espíritos conservadores que são desviados ao mundo do crime e nem por isso deixam de ser conservadores. Mas este é um assunto para um próximo texto.

Você, que leu até aqui, certamente não se enquadra no “conservadorismo popular” descrito. E embora olhe com muito carinho para tal segmento, isso não quer dizer que eu enxergue o conhecimento e a instrução com maus olhos: pelo contrário, é uma arma poderosíssima contra a desinformação e o ideologismo. Por isso, meus caros, aproveitem a oportunidade e busquem a robustez intelectual. Leiam Aristóteles, Aquino, Burke, Tocqueville, Kirk, Lewis, Voegelin, Scruton, Weaver, Oakeshott, Dalrymple, além dos brasileiros Mário Ferreira, Meira Penna e O. de Carvalho. Escritores que, sem dúvida, os ajudarão a compreender a grandeza do pensamento conservador.


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