O que Churchill pode nos ensinar sobre a Venezuela

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O ano era 1933. Hitler estava aumentando seu poderio, havia conquistado a chancelaria alemã e também a chefia do estado, também ameaçava a Áustria, já que para ele “A Áustria alemã deve retornar à pátria grande”. E todo o mundo pensava na paz para a Europa, afinal, a última guerra havia deixado marcas profundas no Velho Continente. O tratado feito em 1919 já havia sido quebrado 9 anos depois, conforme nos conta Winston Churchill em suas “Memórias da Segunda Guerra Mundial – Parte 1″. Havia indícios de que a Alemanha estava se armando, e a fraqueza da Inglaterra e da França que estavam tentando se desarmar em nome do pacifismo deram passe livre para que Hitler iniciasse seu processo de rearmamento. Afinal, construir uma marinha que garantisse a soberania no Báltico e no Canal da Mancha levaria um tempo considerável, além de muito dinheiro e recursos escassos para aquela Alemanha. A saída estava na Força Aérea.

Caça FW 190 alemão, segunda guerra

Já em 1923, havia sido tomada a decisão na Alemanha de que eles deveriam ter uma força aérea pujante para dominar a Inglaterra e a França, primeiro, obviamente, conseguindo a paridade. Mas este não é o tema central do artigo, que vai girar em torno da reação que a Inglaterra e a França detiveram diante do cenário. O que iriam fazer?

Naquela época, na Inglaterra, havia-se um pacifismo reinante por conta do Partido dos Trabalhadores e o Partido Liberal. Mesmo com a retirada alemã da Liga das Nações, eles ainda insistiam num plano suicida de desarmar e diminuir o contingente bélico daquela pequena Ilha. Obviamente, Churchill, aparentemente o único lúcido naquele momento, já havia percebido a insanidade do plano:

“Somos, segundo se admite, apenas a quinta potência aérea — se tanto. Temos apenas metade do poderio da França, nosso vizinho mais próximo. A Alemanha está-se armando rapidamente, e ninguém irá detê-la . Isso parece bastante claro. Ninguém está propondo uma guerra preventiva para impedir que a Alemanha rompa o tratado de Versalhes. Ela se armará; está-se armando; já vem fazendo isso. (…) Há tempo para tomarmos as medidas necessárias, mas o que queremos são providências. Queremos providências para atingir a paridade. Nenhuma nação desempenhe o papel que desempenhamos e aspiramos a desempenhar no mundo tem o direito de ficar numa situação em que possa ser chantageada. (…)”


— Churchill, Winston; Memórias da segunda guerra mundial; Ed. Harper Collins, pg 77

Fica claro aqui que Churchill, movido por um profundo senso de realidade, analisando toda a conjectura que estava acontecendo, previu que a Alemanha viria a atacar, investir e chantagear. Entretanto, a resposta do primeiro ministro, Mr Baldwin, foi mais ou menos uma breve promessa de que primeiro tentariam uma diplomacia (claro que isso iria funcionar, um ano antes Hitler havia aniquilado 5.000 possíveis conspiradores numa clara demonstração de seu jogo diplomático) e, logo depois, caso essa alternativa fracassasse, iniciariam um investimento na parte de defesa aérea do país. Naquela época, o governo apresentou uma proposta tardia de fortalecer a RAF (Royal Air Force) com 41 esquadrilhas, ou seja, 820 aeronaves. O Partido Trabalhista, juntamente com o Partido Liberal, propuseram um voto de censura:

“Negamos a necessidade de maior armamento aéreo. Negamos a afirmação de que um aumento da força aérea inglesa possa contribuir para a paz mundial e rejeitamos inteiramente a reivindicação de paridade.


— Ibidem, pg 77

O líder do partido Liberal afirmou:

“Qual é a situação no que tange à Alemanha? Nada que tenhamos visto ou ouvido até agora parece indicar que nossa atual força aérea não seja suficiente para enfrentar qualquer perigo, na atualidade, vindo daquela direção.” 


— Ibidem, pg 77

E Churchill rebateu:

“Afirmo, em primeiro lugar, que a Alemanha já criou, numa violação do tratado, uma força aérea militar que tem agora quase dois terços do poder de nossa atual força de defesa interna. Esta é a primeira afirmação que exponho ao governo para sua consideração. A segunda é que a Alemanha está aumentando rapidamente essa força aérea, não apenas através das grandes somas de dinheiro que figuram em seus orçamentos, mas também através de subscrições públicas — muitas vezes, quase forçadas — que estão em andamento por algum tempo em toda a Alemanha. Pelo final de 1935, a força aérea Alemã será quase igual, em termos numéricos e em eficiência, à nossa força aérea de defesa nessa data, mesmo que as quais propostas do governo sejam postas em prática. A terceira afirmação é que, se a Alemanha prosseguir nessa expansão e se continuarmos a executar nosso programa, em algum momento de 1936 a Alemanha será, definitiva e substancialmente, mais forte no ar do que a Inglaterra. Em quarto lugar, e essa é a questão que vem provocando angústia, depois que eles tiverem obtido essa liderança, é possível que jamais consigamos superá-los. Se o governo tiver que admitir, em qualquer momento dos próximos anos, que a força aérea Alemã é mais poderosa do que a nossa, ele será considerado, e a meu ver justificadamente, considerado como tendo falhado em seu dever primordial para com o país.” 


— Ibidem, pg 77–78

Obviamente e para a sorte da ilha britânica, o voto foi derrotado por ampla maioria.

Bombardeiro Avro Manchester britânico, Segunda Guerra

Passado o inverno e mesmo após o Mr Baldwin afirmar veementemente na câmara que Hitler jamais teria esse poder (todo pacifista é assim, diante da ameaça real, recusa-se enxergar o óbvio ululante para apenas visualizar uma paz que já não existe mais e só pode ser reassegurada mediante um ato de audácia), em 1935, o ministro do exterior e Mr Éden fizeram uma visita a Hitler na Alemanha e, numa conversa importante, foram pessoalmente informados por Hitler que a sua Força Aérea já havia alcançado paridade com a Inglaterra, e imediatamente todos afirmavam que haviam caído numa “emboscada”. Mr Baldwin relatou:

“Qualquer que seja a interpretação exata dessa expressão em termos de poderio aéreo, ela sem dúvida indicou que a força alemã expandisse a um ponto consideravelmente superior às estimativas que nos foi possível apresentar à câmara no ano passado. Este é um fato grave, de que o governo e o ministério da Aviação tomaram boa nota imediatamente.”


 — Ibidem, página 81

Hitler sabendo disso e a Inglaterra também, bastava que ele aumentasse sistematicamente sua produção para ampliar a sua força aérea e deixar a paridade para trás, favorecendo em tudo ao seu favor e dando início a possibilidade de iniciar a guerra.

No artigo que escrevi no Medium, citei o caso da relação do Trump com o Kim Jong Un e mostrei que a supressão da Coréia do Norte de longe resultaria numa guerra, como toda a mídia e o beautiful people da imprensa imaginavam que seria. Eu de fato estava certo. Tempos depois houve a notícia de que ambas as Coréias estariam se aproximando. Ainda teremos muitos capítulos dessa novela, mas onde entrará a Venezuela?

Resultado de imagem para grupo de lima
Foto do Ministro Ernesto Araújo e o seu assessor Filipe G. Martins, Reunião do Grupo de Lima, 2019
Fonte: < https://veja.abril.com.br/mundo/grupo-de-lima-concorda-com-rompimento-de-relacoes-com-a-venezuela/>

O Brasil, aliado ao grupo de Lima (Grupo de países americanos que discutem medidas e posições a serem adotadas para resolver a situação da Venezuela), tem tomado inúmeras decisões a respeito da situação com a “narcoditadura” venezuelana. A principal delas foi o reconhecimento de Juan Guaidó como o autêntico presidente e líder da nação venezuelana e, óbvio, já houve reclamação por parte da esquerda quanto a uma interferência do Brasil em assuntos externos (contraditório não reclamarem quando o Lula apareceu em um vídeo para a eleição de Maduro, afirmando que ela era ‘A Venezuela que Chávez Sonhou; ou até mesmo quando houve o episódio em Honduras).

A situação causada pela ditadura socialista de Maduro tem tornado cada vez pior a situação na fronteira com Roraima e gerado uma verdadeira crise humanitária na região. Além disso, como o Brasil, manipulado pelos governos petistas, ajudou a construir e levar a desgraça para aquele povo, torna-se um dever moral da nossa nação tentar restaurar a democracia e a civilidade na Venezuela. E, como bem demonstrado no exemplo do Churchill, ou nos preparamos para todas as possibilidades e sabemos lidar com as diferenciadas tensões advindas do mundo, ou estaremos a mercê do destino que outros quiserem construir para nós.

Terminei escrevendo sobre sermos donos do nosso destino e deixarei para vocês um discurso do Churchill no parlamento americano, cujo o título chama-se Mestres do Nosso Destino. Servirá para entender como se deve tratar ditadores e genocidas que não pensam sequer duas vezes antes de destruir seu próprio povo e a sua região.


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