John K. Delaney: um democrata old school

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Empresário e progressista. Termos antagônicos?

Não quando se trata do democrata John K. Delaney, o primeiro a anunciar sua candidatura às eleições presidenciais americanas de 2020.

Eleito ao Congresso Federal pelo 6º distrito de Maryland, em 2013, Delaney havia, antes disso, feito toda a sua carreira na iniciativa privada. Fundou, na década de 1990, duas empresas do setor financeiro que logo foram parar na bolsa de valores de Nova Iorque. Em 2004, recebeu o prêmio de empreendedor do ano pela Ernst & Young.

John Delaney, de 55 anos, nasceu em Nova Jersey, um verdadeiro pátio industrial no nordeste dos Estados Unidos. Desde cedo ajudava o pai eletricista e graças a bolsas de estudos concedidas a filhos de sindicalistas, conseguiu ingressar na Columbia University e na Georgetown University, por onde formou-se em Direito.

Tenta se apresentar como um político acima das ideologias e da polarização. No vídeo de promoção da sua candidatura, reúne depoimentos positivos até mesmo de republicanos, e a maioria dos seus projetos de lei no Congresso eram considerados bipartidários. Em 2018, lançou o livro “A resposta certa: como podemos unir nossa nação dividida”, no qual propõe um debate mais conciliador e menos extremista.

Muito embora seja amigável a soluções via mercado e entusiasta da globalização, a veia trabalhista de Delaney é muito forte e seu discurso político carrega essa característica. Acena constantemente aos sindicatos, defende a existência de programas governamentais a exemplo do Food Stamps (algo parecido com um Vale-Alimentação) e a implementação de um sistema universal de saúde nos moldes canadenses. 

Sua proposta para a saúde, ao invés de fomentar a concorrência, foca no conserto do ObamaCare através de subsídios do governo, o que inevitavelmente resultaria no aumento da dívida pública. Também sinalizou que aumentaria em 23% o imposto sobre grandes empresas para viabilizar obras de infra-estrutura no país. Outro ponto caro ao candidato é a questão ambiental, para a qual propõe soluções que envolvam a qualificação da mão-de-obra e seu remanejamento às indústrias não-poluentes, bem como a aplicação da taxa de emissão de carbono.

No campo dos costumes, John Delaney parece ser um sujeito moderado, bem diferente dos nomes mais conhecidos do Partido Democrata, cuja atuação política se resume, por exemplo, na defesa da liberação das drogas, do casamento gay e abertura das fronteiras. Pró-direitos reprodutivos, Delaney não esconde, no entanto, ser pessoalmente contrário ao aborto em virtude de sua religião, e não pauta seu discurso em tópicos como uso da maconha, união entre pessoas do mesmo sexo ou regulação de armas. Da mesma forma, não inclui em sua plataforma de campanha posições sobre imigrantes ilegais e políticas afirmativas étnicas e raciais.

E é justamente por sua omissão em temas tão importantes aos democratas que Delaney talvez não seja franco favorito a conquistar a nomeação do seu partido. Em tempos onde figuras como Alexandria Ocasio-CortezElizabeth WarrenBernie Sanders, etc., defendem abertamente o feminismo, o multiculturalismo identitário e até mesmo o socialismo, um candidato de caráter técnico, cis-hétero-caucasiano não salta aos olhos da alta cúpula globalista, sobretudo quando o objetivo é encontrar quem venha a ser um adversário implacável para derrotar Donald Trump. 

Não obstante, John Kevin Delaney seria uma alternativa à esquerda muito bem-vinda no Brasil, onde a liderança do espectro é disputada por um presidiário, um coronel desenvolvimentista, um invasor de propriedade privada e uma ecossocialista ortodoxa.


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