A “Síndrome de Marco Polo” do PSL

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O brasileiro em geral possui uma característica bastante peculiar que consiste numa espécie de Síndrome de Marco Polo. Tal condição – ressalvadas as justíssimas exceções – exprime a forma deslumbrada, infantil, grotesca e até mesmo provinciana do nosso comportamento ao contactarmos outra cultura no exterior. O estado de coisas se agrava a partir do momento em que parlamentares do país se prostram diante de um regime brutal, policialesco e que vai de encontro a tudo que foi defendido no Brasil nos últimos anos.

O financiamento da viagem dos deputados do PSL – ainda não empossados, vale a lembrança – para a China através da sua embaixada e da suspeitíssima Huawei demonstra o despreparo intelectual dos eleitos sob a égide representação popular e o desmerecimento das pautas que, a muito sangue e suor, foram combatidas no país nos últimos 16 anos e que culminaram na eleição de Jair Bolsonaro. É estarrecedor ouvir de um dos “descobridores”, o deputado Sargento Gurgel, que a China é um “Comunismo mais light”. Seja lá o que ele quis dizer com isso, obviamente as 60 milhões de pessoas assassinadas e outras tantas defenestradas por esse regime refutam essa premissa. Além disso, pouco importa a motivação da viagem; o diretório nacional do PSL havia rejeitado o convite assim que foi feito. Não contentes com a negativa, os diplomatas de rua articularam internamente e viajaram por iniciativa própria, expondo as vulnerabilidades do partido, e sem a ciência/anuência dos principais interessados: o Presidente da República e o Ministro das Relações Exteriores. Foi de uma irresponsabilidade inominável.

Como se não bastassem os arroubos caipirescos, com todo respeito ao povo honrado do interior que não se submete a esse tipo de canalhice, ainda houve sátira e deboche direcionados aos eleitores, tratados como ignorantes, e a Olavo de Carvalho, que dispensa maiores predicados. Os ilustres deputados, entre um story e outro no Instagram, retrucavam críticas e forçavam narrativas, a exemplo de Carla Zambelli afirmando que estava “buscando tecnologias para o seu país” e que faria isso “até na Coreia do Norte”. De fato, empregar tecnologias de monitoramento e indução comportamental é bastante eficaz para qualquer um, menos para os monitorados. Assim como Mazzaropi fantasiando com a “capitár”, a comitiva passou, sem perceber, por um processo de lavagem cerebral típica de regimes comunistas e que foi amplamente retratada por dissidentes desses mesmos regimes. A prática consiste em exibir locais aparentemente prósperos no país, oferecer o máximo de conforto regado preferencialmente a muita bebida e comida para que os visitantes, ao retornarem, façam uma propaganda positiva do Comunismo em seus países, como prova o relato do Sargento Gurgel destacado anteriormente.

A cobrança dos eleitores quanto à postura dos deputados é justa e necessária. Não adianta fazer espetáculo, erguer falácias e bater em espantalhos. A China, apesar de ser o principal parceiro comercial do Brasil, não pode ser tratada da mesma forma que regimes democráticos devido à forma que subjuga dissidentes e explora seus cidadãos em prol de um regime sabidamente sanguinário. Ninguém se opõe à busca de inovações tecnológicas para o país, desde que feita de forma criteriosa, com a devida orientação diplomática e em diálogos institucionalizados.


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