Por que assistir a When Calls the Heart?

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When Calls the Heart é uma série produzida e transmitida pela Hallmark Channel, um canal americano-canadense de cunho cristão protestante, que retrata a história de uma pequena cidade chamada Coal Valley, localizada na fronteira do interior do Canadá, e possui toda a sua atividade produtora baseada numa mina de carvão.

A série começa com três acontecimentos principais: um acidente na mina que deixa boa parte das mulheres viúvas, a vinda da professora Elizabeth Tatcher e a vinda do novo xerife da cidade e integrante da polícia montada do Canadá, Jack Thornton.

Como a economia da cidade é baseada nessa atividade produtora, boa parte dos homens trabalham nessa mina e suas mulheres permanecem em casa cuidando dos seus afazeres. O fato deles trabalharem sob essas condições, com o tempo torna-se um problema, pois o número de acidentes evolui e a consequência é a repentina viuvez de muitas mulheres.

Elizabeth é uma mulher advinda de uma família nobre da cidade de Hamilton, e seu desafio inicia quando ela deseja perseguir seu sonho de ser uma professora e mudar a vida de pessoas simples. Jack Thornton vem de uma família simples e resolve seguir a vocação do seu pai: ser um oficial da polícia montada. Acontece que ele se vê frustrado em sua tentativa de adentrar na polícia, quando o pai da Elizabeth transfere-o para Coal Valley, ao invés de uma guarnição com maior influência e ação.

Após expostos esses fatos, eis abaixo uma leitura e análise mais profunda dos acontecimentos:

O imaginário sofre um reset

O imaginário é, trocando em miúdos, uma caixinha que carregamos onde a memória e a imaginação atuam juntas, ou seja, tudo aquilo que absorvemos enquanto possibilidade será o material que irá influenciar a capacidade de passearmos e ampliarmos, pelo uso da imaginação, as nossas possibilidades de existência, mundo e vida. Por isso, na célebre frase de Leibniz “O mais inteligente é aquele que memoriza mais figurinhas”, citada pelo professor Olavo, temos a noção de que se vivemos no imediatismo de nossas vidas iremos apenas imaginar como possibilidade esse mesmo pequeno nicho e jamais conseguiremos transitar em outras possibilidades. Todavia, a partir do momento que absorvemos e estudamos outras vidas ou, por meio de filmes e séries, nos deixamos impactar por ensinamentos, imagens, impressões, expandimos a nossa capacidade de inteligência e assim ampliamos as nossas possibilidades morais e éticas. A grande dificuldade em agirmos corretamente em nossas escolhas morais vem justamente daí: nossa caixinha está inchada de inúmeras informações inúteis, erradas ou imprecisas, e pior, a maioria de nós não se dá conta disso!

Esse é um dos motivos de se ensinar contos de fada ou as fábulas de Esopo para crianças: é mais fácil transmitir normas morais quando compreendemos as possibilidades em que elas se aplicam.

Há alguns teóricos que afirmam, por exemplo, que a sanha das pessoas que assistem séries como Game Of Thrones, e Vikings, onde há a demonstração clara do caos, desordem e barbárie, é justamente um reflexo desse imaginário confuso e recheado de contradições, ambiguidades e imprecisões morais. Sendo assim, a pessoa nesse estado jamais conseguirá exigir um padrão mais elevado para os personagens pois vê nestes a mera representação de suas possíveis escolhas e decisões.

Entretanto, quando nos deparamos com When Calls the Heart o cenário é completamente diferente. Há na série uma visão conservadora de mundo e muito próxima dos ideais cristãos de organização social: há uma pequena cidade, com um negócio central e motriz (no começo é a mina, depois a serraria) no qual toda a economia gira em torno. Há também uma centralidade na fé daquele povo que permeia as suas relações e fazem todos se enxergarem como uma unidade, mesmo que cada um saiba dirigir sua vida pessoal conforme suas competências. Então encontramos nela uma visão ordenada de mundo, orientada e recheada de valores essenciais para se manter a ordem na civilização.

Modifica a forma que vemos o amor

Além dos dramas existentes na cidade, que sempre demonstram a solidariedade, fé e caridade entre seus membros, um outro motor da série é a visão do amor.

A confusão que possuímos em nosso imaginário também acontece quando se trata do relacionamento afetivo. Uma das tramas existentes na série é o romance entre Jack e Elizabeth.

Pelo fato de ser uma série em que seu maior público é o feminino, os comentários a respeito dessa trama são sempre pautados sob uma ótica mais romântica e idealizadora. Ter essa visão é necessário, acontece que muitas pessoas, principalmente alguns homens, acabam possuindo uma visão muito adocicada da série, como se fosse apenas mais um romance que faz as mulheres se sensibilizarem. Entretanto, pode-se enxergar os romances ali presentes de uma forma muito mais aprofundada.

As pessoas que a assistem filmes e séries podem ter percebido uma situação: todo relacionamento sempre acaba numa cena que mostra uma relação sexual, ou insinua que esta relação tenha ocorrido. Muitas vezes a forma que o homem trata a mulher ou vice-versa, é uma visão desprovida do valor inicial da amizade, do romance, e estes valores tornam-se secundários, ignorados e ofuscados pela sensualidade do casal.

Muito se diz em Hollywood sobre a objetificação feminina ou a transformação da mulher apenas em um instrumento de prazer, mas essas pessoas que tanto reclamam tornam-se os causadores deste problema.

E qual seria esse problema? Quando estamos acostumados a vivenciar no nosso imaginário essas relações, torna-se muito mais fácil desenvolver relacionamentos assim. E quando se trata de relacionamento amoroso, todos concordam que a sinceridade é um grande valor. Porém, é mais difícil ser sincero quando estamos tomados apenas pelo desejo de manter um jogo de poder ou sentimental com o outro, obter algum recurso em troca, obter algum status ou qualquer outra finalidade que torne a outra pessoa apenas um meio. Neste caso, a relação deixa de ser sujeito — sujeito e passa a ser sujeito — objeto; usa-se alguém para alcançar determinada finalidade sem notar os respectivos valores ali presentes.

Entretanto, ao se deparar a forma como o romance de Jack e Elizabeth se desenrola, passando por uma fase de amizade sincera, de conversa, crescimento na intimidade, até a atração física e sentimental culminando num noivado e casamento, reordenamos esse processo que deveria ser perceptível a qualquer pessoa com um objetivo e propósito familiar de vida, desfazendo assim toda a dinâmica criada pelas séries e filmes modernos: o casal se conhece e acaba desembocando imediatamente na relação sexual.

Um outro ponto positivo para série nesse quesito é que até mesmo nos matrimônios, a ausência da sensualidade e da sexualidade causa, nos solteiros, o efeito de entender e respeitar esse momento de intimidade e privacidade. Ao contrário dos revolucionários progressistas que prezam pela promiscuidade como uma forma de promover a desordem (até vivem isso na carne, como na série Trótski), os conservadores e cristãos apostam nas relações saudáveis, baseadas no companheirismo e que seguem a ordem natural de desenvolver um sentimento e culminar num propósito de ambas as partes em formar uma família. 

Há também um sentido para a vida

Um outro motivo interessante é a recordação de que o ser humano precisa ter um sentido pra viver. Num mundo hedonista onde as pessoas não vivem bem, apenas buscam saciar suas vontades inteiramente e que já perderam o poder da renúncia, a série nos recorda em diversos momentos e na vida de vários personagens que às vezes precisamos sacrificar nossos gostos e até alguns planos para seguirmos o chamado de nossas vidas. Isso acontece na série, primeiro com a ida de Elizabeth e Jack para Coal Valley; com as viúvas que possuem suas vidas reviradas e precisam mudar seu estilo de vida para sobreviverem (aqui uma ressalva, algumas pessoas enxergam nesse movimento uma pitada de feminismo, empoderamento, que na verdade é um momento de sobrevivência, a iniciativa que foi necessária para a época), e a todo momento há sempre esse movimento: o personagem se instala, percebe como a vida é agradável na cidade, mas encontra um propósito exterior e precisa sair ou então encontra esse mesmo propósito na própria cidade. 

Nos lembra o poder do perdão

A nossa cultura midiática é permeada por uma falsa ilusão de que a vingança e a impiedade são as verdadeiras forças e o perdão é um sinal de fraqueza. A série também nos livra dessa mentalidade, pois muitos personagens cometem erros, e os parceiros/as acabam tendo que lhes perdoar. Além disso, a série faz questão de quebrar a ilusão de que não existem personagens perfeitos, embora muitos deles sejam bons e se esforcem em fazer o bem, também erram e precisam ser perdoados. Isso é o principal motivo para não perdoar alguém: a pessoa ofendida jamais reflete que ela também seria capaz de cometer aquele erro e por isso coloca-se num grau de superioridade onde torna-se impossível descer à miséria do outro e perdoá-lo.

O perdão realmente não é para os fracos, mas sempre foi atribuído a todos os sujeitos com as posições mais elevadas e nobres na sociedade: primeiramente Deus, com o perdão dos pecados, depois reis, juízes, mostrando que a pessoa que perdoa está em autoridade e condição de nobreza diante do arrependido.

Há também o elemento de mudança de vida. A nossa sociedade perdeu a capacidade de perceber que as pessoas se arrependem e podem mudar de vida; podem almejar algo melhor para si mesmas; e é por isso que as séries e filmes aonde reina a barbárie e a impiedade fazem tanta fama: somos incapazes de conceber uma civilização ordenada e que necessita da confiança em uns nos outros e a possibilidade de renovação de vida.

Acredito que nessas linhas consegui causar uma curiosidade em quem ainda não assistiu a série e propor uma reflexão diferente sobre a série para quem, porventura, tenha assistido e deixou passarem despercebidos certos detalhes. De qualquer forma, desejo a todos uma boa diversão e fica aqui a minha indicação de entretenimento.



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One Comment on “Por que assistir a When Calls the Heart?”

  1. Parabéns, realmente é uma bela série. Muito bem escrita, os arcos de história são curtos e bem resolvidos, existem poucos furos de roteiro. É uma série romântica que não cansa nem é piegas, sendo divertida e interessante. Muito diferente dos novelões enfadonhos.

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