Beto O’ Rourke: o trunfo dos democratas

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Quando iniciei minha pesquisa para escrever mais uma análise sobre um dos possíveis candidatos à presidência dos EUA em 2020, pedi a um amigo texano – e eleitor do Partido Republicano – que descrevesse para mim, em poucas linhas, o democrata Beto O’Rourke.

Esse meu amigo, que trabalhou com Ted Cruz em 2016 e é um ativista conservador bastante atuante lá no sul dos EUA, não pestanejou ao cravar: “Trata-se de um político jovem, carismático e charmoso, que chama a atenção do público com seu idealismo”.

E de fato, quanto mais eu lia sobre Robert Francis “Beto” O’Rourke, mais me convencia de que estava diante de um novo fenômeno da política americana. Não bastasse encantar as massas – sobretudo a juventude – por ter feito parte de uma banda de punk-rock nos anos 90 e, por ainda hoje, aos 46 anos, andar de skate nas horas vagas, o ex-congressista, nascido em El Paso, Texas, também possui um currículo de recentes conquistas políticas.

O’ Rourke ficou famoso pela sua campanha ao Senado este ano, durante a qual visitou todos os 254 condados do estado do Texas, mobilizando milhares de pessoas e conseguindo arrecadar, somente através de doações pessoais, 80 milhões de dólares (ele se recusou a receber qualquer centavo do partido ou de grandes organizações).

Tamanho engajamento só poderia ter culminado naquele que foi, em que pese sua derrota, o resultado mais surpreendente e comentado das eleições americanas de midterm. Com uma plataforma progressista em um estado tradicionalmente conservador, O’ Rourke alcançou 48,1% dos votos e quase bateu o líder do movimento Tea Party, Ted Cruz.

Beto também ganhou evidência internacional quando seu vídeo defendendo os jogadores da NFL que protestavam ajoelhando-se durante a execução do hino nacional antes das partidas viralizou no YouTube. Na corrida ao Senado, O’ Rourke encampou as bandeiras de inclusão e garantia de direitos a grupos minoritários, foi taxativo na rejeição ao muro proposto por Trump e fez coro ao seu impeachment. Com tais pautas, era de se esperar que O’ Rourke também agradaria o beautiful people hollywoodiano. Estrelas como Robert De Niro e Beyoncé já manifestaram apoio prévio à sua candidatura. Em pesquisa recente realizada pela MoveOn, ele largou na frente de nomes como Joe Biden e até mesmo Bernie Sanders na preferência dos eleitores para uma candidatura em 2020.

Tanto clamor popular chamou a atenção do establishment do Partido Democrata. No mês passado, O’ Rourke reuniu-se em Washington com o ex-presidente Barack Obama, dando início às especulações da imprensa americana em torno do seu nome. Obama, que por sinal havia desdenhado de O’ Rourke em 2013 e escolhera à época apoiar outro democrata para o 16º distrito do Texas, agora é só elogios ao jovem político. Destacou a singularidade da campanha de Beto e sua habilidade para arregimentar seguidores. Também declarou, sem falsa modéstia, que O’ Rourke carrega a mesma sinceridade e entusiasmo que ele.

A propósito, as semelhanças com Obama não param por aí. Beto O’Rourke se baseia fortemente nas lições de Saul Alinsky, resgatadas pelo ex-presidente em suas próprias corridas presidenciais de 2008 e 2012, e replicadas mais tarde por Donald Trump em 2016.

Atualmente, é o método amplamente usado nos EUA por equipes de campanha e movimentos grassroots apartidários, tanto de esquerda quanto de direita, e que consiste na coordenação de militantes e voluntários para bater nas portas e distribuir material político como meio de informar os eleitores. Saul Alinsky (1909-1972), membro do crime organizado em Chicago, concebeu essas táticas para administrar e organizar o ativismo político.

Agora, todos – seja no Partido Democrata, no GOP e até mesmo no movimento libertário – as utilizam para campanhas, e os resultados falam por si: primeiro um senador desconhecido de Illinois se torna o presidente dos EUA por dois mandatos; e depois um multibilionário sem experiência política chega a Casa Branca. A estratégia de Alinsky é a receita ideal para chegar aos eleitores indecisos ou desencorajados e convencê-los a votar. E foi com esses eleitores que Beto se conectou nas eleições de novembro passado.

Sobre sua visão política, vale ressaltar que, durante seu mandato como congressista, O’Rourke apoiou leis antitruste mais rigorosas para romper monopólios que, em sua opinião, sufocam a competição e a inovação. No entanto, ao mesmo tempo promoveu regulamentações da indústria e dos negócios com a justificativa de promover a concorrência, ajudar a economia a crescer e proteger os consumidores e o meio ambiente. Seu score alto em rankings idealizados para fiscalizar políticos simpáticos aos sindicatos torna ainda mais ambígua sua posição acerca do papel do Estado e do mercado na economia.

Em suma, Beto O’ Rourke provou ter capilaridade, carisma, expertise em arrecadação e a chancela das celebridades de esquerda e da alta cúpula democrata. Também se sai muito bem nos debates e diante da imprensa conservadora. Em entrevista a Tucker Carlson, um dos apresentadores mais durões da Fox News, O’ Rourke foi firme na defesa da controversa proposta de garantir cobertura médica governamental a imigrantes ilegais. Será que surgiu o nome para fazer testa a Donald Trump e resgatar o clima de mudança e euforia que colocou os democratas de volta à Casa Branca em 2008?

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