A ditadura do Covid

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Como tudo mudou do dia para a noite?

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China Vílus

Estive a refletir muito sobre tudo que estamos vivenciando e percebi que magicamente houve uma tremenda inversão da realidade: todos os valores, tudo aquilo que era mais valoroso para a massa se tornou desprezível graças a nova situação do vírus chinês. Chega a ser algo absurdamente assustador pensar e tentar enxergar o cenário: estamos vivendo plenamente o mundo orwelliano de 1984, e tudo aconteceu em menos de 2 meses!

Na distopia de Orwell, o cenário descrito havia sido pavimentado por anos de propaganda e domínio. Entretanto, em nossa realidade tudo se esvaiu como fumaça diante dos nossos olhos num espaço curtíssimo de tempo. Encontrei um pouco da resposta sobre a construção dessa situação em um autor pouco conhecido, mas com importância inversamente proporcional a sua fama: Nicolai Berdiaev.

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No seu livro, o filósofo russo versa sobre como em alguns séculos o mundo tendeu de uma Teocracia medieval para uma Teocracia tão medieval quanto, com apenas uma única diferença: a primeira foi influenciada por homens motivados por uma teologia meramente divina; a segunda foi criação de uma teocracia satânica.

O autor inicia lembrando-nos que a transição da Idade Média para a era moderna foi inteiramente diferente na Europa em relação ao que ocorreu na Rússia.

O renascimento inicia ainda na Idade Média, com grandes autores como Dante Alighieri, Santo Tomás de Aquino, Duns Scotto e outros. A arte, neste período, após anos de apagão por conta das invasões barbaras, também começa a se modificar, o gótico medieval desponta como um grande farol iluminador das consciências humanas e facilita o trabalho dos professores e pregadores. Entretanto, surge em meados do século 15 um novo renascimento.

O homem tenta se desvencilhar de qualquer espírito criativo ligado a uma religião e procura buscar essa mesma força criadora em si; aquilo que era inspirado por toda uma cultura religiosa agora deveria ser fruto do zero.

Berdiaev nos relembra, porém, que no início desse movimento o homem ainda estava conectado às suas raízes espirituais. A arte ainda tinha leves traços da busca pela beleza, que era orientada pela prática da religião; a filosofia ainda tinha um certo apreço pela verdade, mas como uma árvore que, sem raízes, tende a secar.

Os personagens de Dostoiévski nos mostram exatamente esse cenário: o homem se afastou de suas raízes, e no caminho de tentar apenas fazer descobertas no escuro, suas apalpadelas tenderam apenas a transformar o mundo numa confusão. Não é que faltou a Verdade, mas havia 15.000 verdades em cada esquina, e é esse cenário que pavimenta no ser humano um regime chamado democracia.

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Acrópole de Atenas

No livro A República, de Platão, há um trecho excepcional onde há uma relação dos tipos de regimes políticos com o ordenamento da alma humana. Essa regra não falha: Berdiaev nos mostra que o surgimento da democracia vem por conta da exaustão espiritual do Ocidente. O homem não quer mais pensar para encontrar um bom caminho para si.

Pretende se deixar guiar pelo que a massa decidir. Enquanto que na teocracia medieval existia o Macroantropo (termo empregado por Voegelin para definir uma sociedade unificada espiritualmente), o homem secular resolve criar o “povo”. O poder emanaria do povo e sua vontade seria soberana. O individualismo que a sociedade criou desemboca num coletivismo que dá origem aos regimes totalitários do século XX (lembre-se que fascistas e nazistas surgiram por meio de votos).

Com a vida desregrada, vivendo longe de uma estabilidade familiar, o homem perde inteiramente o rumo e a vida caminha drasticamente para um inferno sem sentido, onde o que resta é apenas satisfazer suas vontades e desejos. Numa vida onde não há nada superior, o homem se guia apenas pela cotidianidade. A arte se degrada; a religião se enfraquece; a filosofia esmorece. O homem perde o seu espírito, pois arrancou a raiz do solo no qual estava firmemente encaixado.

Ao contrário do Ocidente, o Oriente não vivenciou esse processo de desfazer as suas raízes. Não houve na Rússia um movimento de enfraquecimento das instituições medievais. Todos os ideais anti humanistas e anti cristãos foram apenas um substituto para todo o substrato social que existia na Idade Média. Não houve um afastamento de valores, mas a substituição de uns por outros, que culmina exatamente no homem buscando se divinizar e se orientar apenas por um representante de Deus aqui na terra: o Partido.

“O socialismo quer o homem todo inteiro em seu poder, não somente o corpo, mas também a alma. Atenta contra a profundidade mais íntima mais misteriosa da alma humana. Suas pretensões a este respeito são uma contrafação às da Igreja. Só a Igreja, com efeito, pretende ao poder sobre alma humana e toma a seu cargo a tarefa de guiar as almas. O Estado nunca aspira ao poder sobre a alma humana, é consciente dos limites de sua força. O fundo do espírito humano permanece impenetrável ao Estado. O mais despótico Estado não exige que as almas se lhe abandonem em seu mais sagrado fundo. O Estado lançava à prisão e condenava à morte, mas não exigia submissão espiritual. O Estado laico, o Estado secular não podia fazer esta exigência. Fazia-a, porém, o Estado teocrático, que tinha pretensões universais, que se acreditava investido dos privilégios sagrados da Igreja. O socialismo dos comunistas manifesta a mesma pretensão sob a forma de um extremismo inverossímil. Ele quer treinar as almas para a mecânica, discipliná-las a ponto de se sentirem elas a gosto no formigueiro humano, de se afeiçoarem à vida de caserna, de renunciarem à liberdade de espírito. O socialismo quer preparar crianças felizes, ignorantes do pecado. O cristianismo faz, antes de tudo, questão da liberdade do espirito humano, e por conseqüência não admite a possibilidade de uma preparação mecânica das almas humanas para o Paraíso terreno. Abandona esta tarefa ao Anticristo.”

BERDIAEV, Nicolai; Uma nova Idade Média; p. 164-165

Por que estou falando sobre tudo isso?

A primeira parte do texto serviu-nos para demonstrar como o homem ocidental criou inúmeras incertezas sobre a vida e como tudo se baseava apenas em fundamentar seus desejos na realidade. O ideal máximo da vida ocidental consistia em satisfazer seus desejos e a nobreza de caráter. O dever e a virtude tornaram-se antiquados, resultando na lembrança de um tempo em que os homens eram obscuros e não conseguiam ser livres.

Acontece que abdicar de tudo isso nos deu a possibilidade de sermos aprisionados por uma das piores prisões: a prisão do medo. O medo é um sentimento sempre descrito pela filosofia clássica ou teologia católica como uma espécie de irmão da raiva quanto à origem. O medo e a raiva surgem porque encontramos em nossa vida um obstáculo que não conseguimos superar.

ARTIGO: O condicionamento social pela narrativa da pandemia ...

Chesterton diz que o que há de mais importante num autor não é o que ele diz, mas o que ele não diz. Na obra 1984, do George Orwell, percebemos algo que não está ali expresso. Ele foca toda a sua narrativa em demonstrar como o ódio das pessoas destruiu a Civilização (os 5 minutos de ódio; a novilíngua; o clima de vigilância entre vizinhos), entretanto, se você prestar atenção no personagem principal, o movimento que domina a sua mente é o Medo.

O medo é o combustível principal que um regime tirânico tenta infligir na população para dominá-la. Todo regime totalitário tenta silenciar a grande massa por meio do medo. Ele é também o sentimento mais anti cristão. O uso da pandemia serviu exatamente para fazer essa imposição diante da população.

Disse no subtítulo que tudo mudou de uma hora para outra, mas como? Repare o dia a dia das pessoas comuns, antes e agora. Como é que um povo que todo final de semana buscava estar na rua, que se relacionava facilmente com qualquer pessoa sem compromisso e vivia um estilo de vida inteiramente social, em poucos meses mudou inteiramente suas opiniões mais profundas sobre como viver a vida em sociedade?

Eis a resposta: a própria vida livre que o Ocidente criou serviu como uma grande Isca para que o desejo de segurança e salvação dos perigos de um mortal inimigo invisível derrubasse todos os seus alicerces. O homem ocidental viveu durante séculos se negando a dobrar os joelhos diante de um Deus, de orientar toda a sua vida segundo os seus conselhos. Agora terá que enfrentar o trágico destino de dobrar os joelhos diante de tiranias, orientar a sua vida segundo organizações que mudam de opinião a cada dia e seguir o exemplo das biografias mais rasas e desprezíveis que já existiram sob esta terra.


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