1968 Bisando 2020

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1968 é considerado um marco na política e celebrado pelos professores de História como um momento memorável para as causas da esquerda nos quatro cantos do mundo.

De fato, desde os famosos protestos de maio na França, passando pelo Outono Quente na Itália, a Primavera de Praga na Tchecoslováquia e o 30º Congresso da UNE no Brasil – só para citar alguns exemplos – aquele ano foi recheado de acontecimentos que até hoje influenciam os progressistas e nos ajudam, em certa medida, a entender o cenário político atual.

Barricada erguida nas ruas de Paris durante os protestos de maio de 68. Influenciados pela escola de Frankfurt, jovens da época desejavam quebrar padrões. Reflexos do movimento alimentam a retrotopia das frentes de esquerda até os dias atuais.

Nos EUA, 1968 não foi menos importante. Em abril daquele ano era assassinado o ativista Martin Luther King Jr, ao passo que o país vivia, desde meados da década, uma forte onda de manifestações, motivadas pela defesa dos direitos civis, pela luta por igualdade racial e pelos protestos contra a guerra do Vietnã.

Funeral de Martin Luther King Jr, em abril de 1968, na cidade de Atlanta.

Muitos analistas inclusive chamam a atenção para as semelhanças do passado com o que ocorre agora no país. Se nos anos 1960 havia os Panteras Negras liderando rebeliões, atualmente vemos o movimento Black Lives Matter tomando a frente dos protestos e sugestionando comportamentos tanto na mídia como na sociedade.

Quem não se lembra, por exemplo, dos atletas americanos Tommie Smith e John Carlos fazendo o gesto do black power,com os punhos direitos cerrados e erguidos, ao receberem a medalha pelos 200 metros rasos nas Olimpíadas da Cidade do México de 1968?

Qualquer semelhança com os jogadores negros da NFL ou de demais ligas de esporte americanas, que hoje em dia se ajoelham durante a execução do hino nacional como forma de protesto contra o que eles acreditam (ou que o Black Lives Matter os fazem acreditar) ser racismo, não é mera coincidência.

À esquerda, Tommie Smith e John Carlos fazem o gesto dos Panteras Negras. Na direita, atleta da NFL ajoelha-se durante a execução do hino americano, inspirado pelos protestos do Black Lives Matter.

Seguindo com as similaridades entre as épocas, 1968 também foi ano de eleições presidenciais nos Estados Unidos, assim como, em novembro de 2020, os americanos escolherão o seu próximo presidente. Mais uma vez, as questões raciais e a onda de protestos violentos ao redor do país irão pautar a disputa eleitoral.

Há 5 décadas, porém, apesar da forte pressão da esquerda por meio de grupos políticos, do ativismo hollywoodiano, da influência soviética e da atmosfera revolucionária que pairava sobre o mundo, o republicano Richard Nixon, com um discurso de lei e ordem e uma plataforma de campanha conservadora, vencia o democrata George Wallace.

O republicano Richard Nixon foi eleito em meio às turbulências da década de 1960 com um discurso baseado na defesa da lei e da ordem para recuperar a estabilidade social nos Estados Unidos.

Em 2020, a estratégia de Donald Trump diante de um contexto repleto de adversidades é utilizar a retórica de Nixon para, novamente, tirar vantagem da chamada maioria silenciosa da sociedade americana – que vive nos rincões do país e é retratada de forma caricata pelo show business – e derrotar o democrata e ex-vice-presidente Joe Biden com uma margem ainda maior com a qual ele venceu Hillary Clinton quatro anos atrás.

A propósito, Trump já demonstrou que é especialista em ressuscitar sentimentos e aprender com o passado.

Em 2016, o republicano foi astuto ao perceber a pertinência de colar sua imagem na figura icônica e quase unânime de Ronald Reagan para, além do combate ao politicamente correto e da defesa de um plano liberal na economia, até mesmo o seu slogan de campanha (Make America Great Again) ser copiado do ex-presidente, que venceu as disputas de 1980 e 1984 com expressiva superioridade tanto no colégio eleitoral quanto no voto popular.

Na época de Reagan, a liderança dos EUA no mundo era questionada, o fracasso das políticas democratas havia desacelerado o crescimento econômico do país e o patriotismo estava em baixa. Já nos tempos de Nixon, a importância da lei e da ordem foi muito bem trabalhada em face à anarquia e ao terrorismo protagonizados pela esquerda.

Apoiadores de Trump durante comício realizado pelo presidente americano . A chamada maioria silenciosa promete comparecer em peso às urnas nas eleições de novembro.

Para Trump, nada melhor do que esses elementos para chacoalhar a sua militância e resgatar a tradição do movimento conservador de crescer nos momentos decisivos e sair vencedor.

Será que 1968 se transformará em um marco referencial da virada de jogo para a direita em 2020?


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