Conservadorismo e ideologia

O termo ideologia não é o que muitos acreditam ser. Foi utilizado pela primeira vez por Destutt de Tracy (1754-1836) através de sua obra Elementos da Ideologia. Consiste na defesa de uma imensa reforma educacional, que acarretaria em uma ciência das ideias, utilizando-se de técnicas da psicologia que visavam a manipulação.

Ideologia se traduz em qualquer teoria política que tenha como intuito colocar objetivos e doutrinas seculares no lugar da manutenção das tradições e da ordem natural. Mesmo após tantos anos, o conceito de ideologia permanece o mesmo e mais atual do que nunca.

O maior ideólogo

Karl Marx foi o maior ideólogo de todos os tempos. Segundo a sua filosofia, as ideias não são nada além da expressão de interesses de classes definidos em relação à produção econômica. A sua ideologia, então, se traduz meramente como a apologia das demandas de uma classe. O marxismo é uma ideologia que objetiva a revolução, o triunfo do proletariado e, por fim, o comunismo. As consequências de sua ideologia foram vistas, principalmente, no século XX, com diversos governantes entusiasmados com as suas teorias. Após o fim da Guerra Fria, outros ideólogos marxistas foram mais preponderantes, como Gramsci, Adorno, Marcuse e Habermas.

Destaca-se que Karl Marx lançou um livro denominado Ideologia Alemã, tratando o conceito de ideologia com um viés crítico e alegando que o marxismo não seria uma. No entanto, na própria obra, o caráter ideológico do marxismo é ostensivo, com a defesa da revolução educacional dos trabalhadores e das técnicas de manipulação em massa. A sua maior intenção era desconstruir a filosofia cristã de sua época, que segundo ele, servia a interesses errados. O referido livro foi um instrumento de persuasão utilizado para mascarar as suas intenções e acusar os adversários daquilo que ele próprio era.   

Outros exemplos de ideologia

• Nacionalismo

Com grande demonstração de força após o ano de 1980, o nacionalismo tem como proposta a expansão territorial e a defesa da superioridade de seus costumes. Não se confunde com patriotismo.

• Fascismo

Estabelecido por Mussolini na Itália, em 1922, o seu grande lema foi “Tutto nello Stato, niente al di fuori dello Stato, nulla contro lo Stato”, que significa “Tudo no Estado, nada fora do Estado, nada contra o Estado”. A ideologia se caracteriza pela defesa incessante de um governo autocrático e altamente centralizado.

• Feminismo

Ideologia de origem marxista, que supostamente visa o aprimoramento do papel das mulheres no seio social. No entanto, autoras feministas, como Simone de Beauvoir, já salientaram que o seu objetivo faz parte de uma extensão muito maior. Nas academias, é dividido em três ondas históricas, e todas elas acabaram por contribuir no processo de transformação do ser humano em uma coisa amorfa e sem identidade.

• Sindicalismo

Ideologia que defende a desconsideração da personalidade humana em detrimento do fortalecimento das organizações sindicais. Surgiu no século XX, foi bastante popular na França e na Espanha, e tinha como modo de atuação o confisco dos meios de produção e a promoção de greves com o intuito desestabilizar a ordem econômica vigente.

• Social-democracia

Ideologia que visa a revolução política defendendo uma transição gradual do capitalismo para o socialismo, por meio da democracia e do pacifismo.

Grandes críticos da ideologia

• Edmund Burke

Considerado o pai do conservadorismo moderno, perpetrou diversas críticas ao que viria a ser chamado, posteriormente, de ideologia. Chegou a denominar os ideólogos de “reformadores fanáticos”. Segundo ele, o conservadorismo é a negação da abstração na política.

• Eric Voegelin

Com a vida voltada à investigação da realidade, foi um dos principais inimigos da ideologia, mostrando que ela atua contra os símbolos da transcendência e aliena a população com falsas promessas de felicidade no mundo terreno.

• Russell Kirk

É um dos maiores influenciadores do conservadorismo americano, tendo se destacado pela precisão nas análises políticas. Em palestra proferida na Heritage Foudation, enumerou três vícios da ideologia:

1. É uma religião invertida, negando a doutrina cristã da salvação pela graça, e colocando em seu lugar a salvação coletiva, aqui na terra, por meio da revolução e da violência. Prega o abandono da fé em detrimento de preocupações seculares.
2. O ideólogo não aceita nenhum desvio da verdade absoluta de sua revelação secular. Essa visão limitada ocasiona guerras civis e a destruição de instituições sociais benéficas e em funcionamento.
3. Os ideólogos sempre vão denunciar os desviantes ou traidores de sua ortodoxia partidária, dando início à criação de facções pronunciadas entre os próprios ideólogos, que fazem guerras, sem piedade e sem fim, uns com os outros, como fizeram os trotskistas e os stalinistas.

Qual a razão do conservadorismo não poder ser considerado ideologia?

Kirk argumenta que os conservadores rejeitam a verdade absoluta na política, já que entendem que as estruturas políticas e econômicas não são meros produtos de uma teoria, mas instituições sociais que se desenvolvem ao longo do século. Ressalta-se que a ideologia está fundada meramente em abstrações e em sonhos sem relação com a realidade pessoal e social, enquanto visões conservadoras estão fundadas sobre os costumes, convenções e na longa experiência da espécie humana.

Falácia do dicionário 

É importante salientar que determinados dicionários abordam ideologia como algo semelhante a “conjunto de ideias políticas”. No entanto, ao adentrar em discussões com um maior rigor teórico, não é adequado se utilizar de definições simplificadas do dicionário, ao invés de se ater à etimologia e ao seu correto uso no campo da ciência política.