Introdução à Filosofia Grega Clássica

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Para compreender o surgimento dos sofistas, é necessário visualizar o contexto histórico (século V a.C.). Os cidadãos faziam propostas através da Ágora, e para obter a aprovação da maioria esses discursos deveriam ser sólidos e persuasivos. Falar de modo convincente e ter uma boa retórica era um fator excepcional para as necessidades da época.

Os sofistas não foram somente professores, mas detinham uma linha de pensamento diferenciada. As maiores preocupações, segundo eles, eram o homem e a vida em sociedade. Os principais pensadores sofistas foram Górgias, Hípias e Protágoras.

Górgias ganhou reconhecimento por não considerar noções de ética ou virtude, e foi muito importante no sentido de determinar o convencimento como algo que fosse essencial para o convívio em sociedade. Górgias defendia que a pessoa, ao dominar essa habilidade, conseguiria ter todo o conhecimento necessário, ocasionando a felicidade.

Protágoras foi o primeiro sofista e ficou bastante conhecido em colônias, sendo recorrentemente denominado um homem bem sucedido e extremamente intelectualizado. Os sofistas acreditavam que o reconhecimento da sociedade era extremamente primordial para a classe intelectual. O momento era extremamente valorizado, haja vista que, após a morte, o indivíduo perdia tudo que havia conquistado.

Os sofistas acreditavam que qualquer pessoa poderia utilizar um discurso convincente, mesmo que equivocado. Utilizavam um vasto jogo de palavras e trocadilhos, tudo isso para mostrar a “verdade” conveniente para eles na situação concreta. Essa prática foi denominada sofisma.

O que importava, na concepção sofística, era o prazer individual. Sendo assim, até mesmo a mentira seria justificada caso trouxesse algum ganho pessoal. Isso implicava na destruição dos fundamentos de todos os conhecimentos, haja vista que tudo seria relativo e os valores seriam subjetivos.

Sócrates (470-399 a.C.) foi um pensador cujo ideário era extremamente oposto ao visto pelos sofistas. Tudo que se sabe em relação a Sócrates, é fruto de citações de filósofos que o mencionam, já que ele não deixou nenhum escrito, o que levanta suspeitas sobre a veracidade da sua existência. Sendo um personagem fictício ou não, o seu estudo é extremamente importante e valorizado pela doutrina. As principais fontes são Platão (descrito como seu discípulo) e Xenofonte (grande admirador).

Se existiu, Sócrates nasceu em Atenas e morou lá até a sua morte. A história mais conhecida sobre ele é em relação ao Oráculo de Delfos, que ao afirmar que ele é o mais sábio dos homens, Sócrates deduz que a sua sabedoria é originada pela percepção da própria ignorância, originando a conhecida frase: “Só sei que nada sei”.

A atividade filosófica de Sócrates teve como principal expoente o diálogo, dividido em duas etapas. A primeira se chama ironia, em que o filósofo insiste em relação a nada conhecer e leva a outra pessoa a apresentar as suas opiniões. Após cada resposta, ele encontrava alguma falha no raciocínio e fazia outras perguntas, até transparecer a ignorância do interlocutor. A segunda etapa se chamava maiêutica, em que o interlocutor era induzido a tentar elaborar as próprias ideias e adquirir uma existência denominada “verdadeiramente original”.

O principal aspecto da filosofia socrática é a busca pelo bem e pela verdade em sociedade. Sócrates detinha um invejável conteúdo moral, servindo como inspiração para filósofos posteriores.

Através de um trecho visto no livro denominado Ditos e feitos memoráveis de Sócrates, Xenofonte transparece bem tal característica:

A um tempo belas e boas são todas as ações justas e virtuosas. Os que as conhecem nada podem proferir-lhes. Os que não as conhecem não somente podem praticá-las como, se o tentam, só cometem erros. Assim praticam os sábios atos belos e bons enquanto os que não o são só podem descambar em faltas. E se nada se faz justo, belo e bom que não pela virtude, claro é que na sabedoria se resumem a justiça e todas as mais virtudes.

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Platão (428 a.C – 348 a.C) também era ateniense e é tratado pela doutrina como discípulo de Sócrates. Herdou grande parte da moralidade de Sócrates e apostava na razão como o caminho que conduziria o homem ao exercício da justiça. As obras dele, no geral, tratam sobre a boa convivência dos homens em sociedade.

Segundo Platão, o desprezo à razão ocasiona à valorização apenas das paixões pessoais, o que pode resultar em violência contra o próximo. Para ele, quando o homem leva em conta apenas os prazeres do corpo, está exercendo violência contra si mesmo, já que age de maneira pouco racional ou irracional. Se o homem agir dessa maneira em sociedade, não vai levar em consideração as necessidades das outras pessoas, o que pode gerar tirania e determinar a infelicidade geral.

Para representar as suas ideias, o filósofo utilizou-se bastante de histórias fictícias. A mais conhecida delas é a Alegoria da Caverna. Nela, um homem que passou a vida toda preso e acorrentado em uma caverna enxerga reflexos gerados pela luz de uma fogueira. Através da parede, visualiza sombras de estátuas que representam pessoas, animais e objetos. Quando ele foi forçado a sair das correntes para explorar o mundo externo, percebe que passou a vida inteira apenas olhando para projeções de estátuas e fica extremamente encantado com o mundo real. Porém, ao voltar para a caverna e contar a sua experiência aos demais presos, eles o ridicularizam. A alegoria é uma clara alusão ao mundo sensível e ao mundo inteligível, que são teorias platônicas.

Para o filósofo, existe um mundo inteligível, imaterial, eterno e imutável, totalmente distinto do mundo sensível. O mundo sensível é o universo material e pode ser captado através dos cinco sentidos. Para Platão, o mundo sensível é um fluxo eterno. As coisas materiais são meras aparências e não permitem chegar a um conhecimento verdadeiro. Sendo assim, se quisermos alcançar a verdade, deveremos focar nas ideias e ir além do mundo sensível.

Segundo Platão, o ser humano é composto de corpo e alma, sendo a alma a parte mais real do indivíduo. A alma é imortal e eterna, existindo desde sempre no mesmo plano do mundo das ideias. Ele ainda dividiu a alma em três partes: racional (localizada na cabeça); emocional (localizada no peito); e a sensual (localizada no abdômen e partes inferiores).

Platão dedicou uma de suas obras (O Banquete) para retratar exclusivamente sobre o amor. Para ele, que usa Sócrates como personagem, o amor é a insuficiência de algo e o desejo de conquistar aquilo que sentimos falta. A manifestação visível do amor é a beleza. Existem muitas formas de beleza, mas, para Platão, a sabedoria é a maior delas. Um verdadeiro filósofo, em sua concepção, desliga-se da paixão por outro indivíduo e se dedica apenas à contemplação da beleza.

A política também é bastante destacada nas obras de Platão (A República e Político), com uma extrema preocupação em relação à vida em sociedade. Ele descreveu a pólis como modelo ideal. Na cidade, os filósofos tendo acesso à verdade devido ao mundo das ideiasdeveriam ser responsáveis pela sua administração. Sendo assim, os filósofos deveriam controlar o que seria feito, criando as leis e sendo responsáveis por toda a gestão.

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Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C) nasceu na cidade grega de Estagira. Mesmo tendo sido aluno de Platão, contribuiu para uma teoria do conhecimento bastante distinta da elaborada pelo seu mestre. Para ele, é extremamente possível conhecer o mundo através da experiência adquirida pelos cinco sentidos, encontrando a essência das coisas. As ideias não existem em si mesmas; mas são fruto de um processo conduzido pelo intelecto.

Determinar a substância de algo é ter conhecimento, segundo Aristóteles. A substância de um objeto é fornecida pela matéria e pela forma. A matéria consiste nos elementos físicos que constituem a coisa; enquanto a forma é a estrutura interna na qual a forma está organizada. A forma e a matéria são captadas através dos cinco sentidos. Por exemplo: a forma “casa” é o que possibilita distinguirmos essa construção de uma igreja, embora ambas sejam feitas dos mesmos materiais.

Da mesma forma que Platão, Aristóteles esboçou um projeto político. Na obra A Política, afirma que todo homem é naturalmente um animal político e deve assim participar da pólis. A pólis era, segundo ele, a melhor organização social possível, desde que fosse regida por critérios justos.

O homem, para Aristóteles, era uma criatura essencialmente social. Os laços que levam as pessoas a viverem em comunidade são frutos da cultura. Dito isso, o conceito de ética torna-se extremamente importante para o convívio em sociedade: “ciência que trata do caráter e da conduta dos indivíduos”. Nas obras de Platão e Aristóteles, não há distinção entre os conceitos de moral e ética. A distinção foi feita posteriormente por outros intelectuais.

Para Aristóteles, a pólis deve ser governada democraticamente e todos os cidadãos devem fazer parte da assembleia que governa a cidade, principalmente no que diz respeito à elaboração das leis. É perceptível que o ideal de governo dele difere bastante do de Platão, já que Aristóteles não defende que apenas uma pequena parcela de homens governe. Todos deveriam ter parcela nas decisões. Através do diálogo, todos teriam essa capacidade.

O filósofo também merece destaque por ter sido o primeiro pensador na história a abordar a lógica de forma complexa. Para ele, a lógica seria a base de estudo de todas as ciências, já que analisa o modo pelo qual o pensamento é estruturado. Sendo assim, a lógica estuda o raciocínio por meio das proposições e das afirmações que são proferidas, escritas ou pensadas. A forma mais adequada de estrutura lógica, para o filósofo, é o silogismo, que é o encadeamento de duas premissas.

Exemplo de silogismo: 

Cachorros se alimentam.

O Beagle é um cachorro.

Logo, o Beagle se alimenta.

Aristóteles também contribuiu para a física, metafísica e ciências biológicas, sendo o responsável pela divisão dos reinos em animal, vegetal e mineral. Também separou as criaturas inanimadas (sem vida) das criaturas vivas. O seu legado foi muito além da filosofia.


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