No último Domingo (16/10) aconteceu o primeiro debate do segundo tuno entre Jair Bolsonaro (PL), presidente e candidato à reeleição, e Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O evento ocorreu na sede da Rede Bandeirantes e contou com a colaboração dos veículos Folha de São Paulo, UOL e TV Cultura. O formato foi baseado no modelo americano de debate.
O primeiro e terceiro blocos foram de quinze minutos, onde os candidatos se confrontavam diretamente e precisavam administrar o tempo: já o segundo bloco foi de perguntas doa jornalistas funcionários do consórcio: participaram Vera Magalhães, Josias de Sousa, Rodolfo Schneider e Patrícia Campos Mello
No primeiro bloco, Lula já deixou claro: se eleito (Deus nos livre!), fará uma reforma tributária que consiste em taxar lucros, dividendos e grandes fortunas. Para quem pensa que isso traria uma certa “justiça social”, vou pincelar a consequência trágica desta medida.
Thomas Piketty, economista e autor do livro “O Capital no séc XXI”, explica em sua obra que a taxação básica sobre o patrimônio deveria ser entre 1% e 2% para a parcela mais rica da população, já que, segundo o autor, esse enriquecimento é uma “ameaça à democracia”. Porém, um estudo da Tax Foundation, um dos maiores e mais antigos centros de estudos sobre o efeito dos impostos na economia, esta medida causaria a diminuição de 4,9%no PIB americano, a perda de 886.400 postos de trabalho e uma queda da média salarial dos americanos em 4,2%.
O autor de “Não, sr Comuna”, Evandro Sinotti, exemplificou por que taxar grandes fortunas é erro crasso:
“O que determina o padrão de vida de uma população é a quantidade de bens e serviços de qualidade à disposição dela. Mas, para que estes sejam produzidos, é necessário capital, nesse caso, é tudo aquilo que facilita o aumento da produção, como máquinas, ferramentas, estoques, etc. E para que haja acúmulo de capital, é fundamental que haja poupança. E para haver poupança, é necessário se abster de consumir tudo o que se ganha. É isso que os capitalistas sabem fazer. Ao se abster de consumir, eles conseguem acumular recursos para investir em mais bens de capital, que farão com que seja possível um aumento da produção, gerando assim, maior abundância de bens na economia. E mais bens na economia significa que mais pessoas poderão ter acesso a eles, geralmente por preços mais baixos. Uma situação que beneficia toda a população.”
Toda vez que se fala em taxação das grandes fortunas, sempre lembro do ator francês Gerard Depardieu. O então presidente François Hollande, do Partido Socialista (quem diria), enviou uma proposta ao parlamento que aprovou a taxação em 75%, fazendo com que houvesse uma debandada do país dos grandes empresários. Em uma carta aberta ao primeiro-ministro da época, Jean-Marc Ayrault, Depardieu disse que renunciaria sua cidadania francesa em protesto contra a medida taxativa.
Antes de entrar no assunto central deste artigo, falarei do tema corrupção, que foi colocado pelo jornalista Josias de Sousa. O presidente Bolsonaro comentou:
“Lula, você não respondeu a pergunta do Josias de Sousa sobre o petrolão. O petrolão foi o maior esquema de corrupção da história da humanidade. (…) Lula, a Petrobras se endividou em R$ 900 bilhões de reais, dinheiro que serviria para fazer 60 vezes a transposição do Rio São Francisco. Lula, responda sobre o petrolão!”
Leitores queridos, a resposta de Lula é inacreditável, tamanha a desfaçatez. Observem:
“Se houve corrupção na Petrobrás, ora, prendeu-se o ladrão que roubou, acabou!”
Pois bem: o ladrão estava preso, mas foi solto por obra e graça do ministro Edson Fachin.
Outros temas importantes foram abordados: Auxílio Brasil, FIES, pandemia, vacinas. Falar de todos aqui tornaria este artigo longo e enfadonho. Portanto, pensei ser necessário colocar os holofotes em um assunto importante que foi censurado pelo TSE: os amigos de Lula.
Perto do fim do debate, Bolsonaro indagou Lula:
“Já que você tá falando que vai trazer amigos pra cá, vamos falar dos seus amigos! Daniel Ortega! É seu amigo ou não é? Ele te cumprimentou quando você veio para o segundo turno. E lá (na Nicarágua) estão prendendo padres e expulsando freiras, fechando canais de tv, como a CNN, e tvs e rádios católicas. Ele acabou de proibir a comemoração do dia da Bíblia, proibiu procissões, fechou o país. Um desrespeito às religiões! E você o trata como amigo? Diz que isso (decisões de Ortega) compete a ele e nós não podemos fazer nada.
Outro amigo seu, Lula: quando eu falei na ONU que estava de portas abertas para receber freiras e padres da Nicarágua, o teu outro amigo, Petro (Gustavo Petro, presidente esquerdista da Colômbia), ocupou a tribuna e pediu a descriminalização da maconha, melhor, da cocaína, o que é mais grave ainda! Lula, esses são seus amigos? (…)”
Há um ditado antigo e certeiro: “diga-me com quem andas e te direi quem és”. Conhecer com quem cada candidato se relaciona e observar os apoios de quem recebe é deveras importante para compreender o caráter de cada um. Vamos aos fatos.
Ao fim do primeiro turno, Daniel Ortega enviou uma carta de apoio a Lula, que diz:
“Este primeiro momento de triunfo para as famílias e o povo do Brasil, que se levantam com esperança e as vozes de gigantes, anima e alenta a tod@s nós. Parabenizando você e o Brasil, nos congratulamos sabendo que o mundo pertence a quem luta e que estamos realizando as transformações necessárias, com coragem diária. Estamos com vocês…”
Desde que assumiu o controle do país, Ortega prendeu padres e pastores, expulsou freiras, emitiu ordens para prender desafetos políticos, retirou do ar o sinal da CNN do país e de rádios católicas. Além disso, foi aprovado um projeto de lei que permite ao governo controlar toda a produção cinematográfica (pré e pós, inclusive) e audiovisual, quer seja por empresas ou por autônomos. O regime ditatorial também dissolveu mais de 96 ONGs, incluindo a da enteada de Ortega. Zoilamerica Ortega Murillo, que vive no exílio, já acusou o ditador de sofrer abuso sexual.
O jornal Gazeta do Povo, que possui 103 anos de tradição no jornalismo, foi censurado pelo TSE, a mando do Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, por conta de uma matéria que atestava a amizade de Lula com o ditador da Nicarágua. Na ação impetrada pelo PT, o argumento é de que Lula não apoia a ditadura da Nicarágua: “Fatos sabidamente inverídicos”, afirmaram os advogados de Lula. “As publicações dessa natureza são compartilhadas e espalhadas em velocidade exponencial, de modo a aumentar significativamente o alcance das desinformações aos eleitores e às eleitoras, ampliando, desta forma, o impacto negativo das publicações objeto desta representação”.
A Bíblia é clara: “Não se deixem enganar: As más companhias corrompem os bons costumes” (1º Coríntios 15.33). Ao observar o cenário político, observe sempre quem são os “parceiros” dos candidatos. Afinal, isso diz muito sobre eles e irá refletir nos anos de mandato.