Tudo o que você precisa saber sobre o que aconteceu no debate dos democratas nos EUA

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Desde o dia após a vitória do presidente Trump nas eleições de 2016, o Partido Democrata já começou a pensar em 2020 e em como retomar o poder na Casa Branca.

A via do impeachment vem sendo testada incessantemente sem sucesso. Mas não se enganem. O caso Watergate – que levou Nixon à renúncia somente alguns anos depois de sua eclosão – está aí para provar como a esquerda americana é mestre na arte de orquestrar ações de longo prazo e atacar por linhas paralelas.

A antítese, ou plano B, parece ser a aposta em um número elevado de candidaturas à presidência. Dezenas de postulantes lançaram seus nomes ao público. No ano passado, iniciei uma série analisando os principais. 20 deles estiveram presentes, divididos em 10 por duas noites, em Miami, esta semana, para um debate entre pré-candidatos.

As estrelas da primeira noite eram, sem dúvida, o ex-congressista do Texas, Beto O’ Rourke – famoso por quase ter vencido o líder do Tea Party, Ted Cruz, na disputa por uma vaga no Senado; e a senadora Elizabeth Warren, de Massachusetts. Ambos ressaltaram seu antagonismo ao presidente Trump com ataques à política imigratória e ao corte de impostos promovido pelo republicano.

Na rodada seguinte, a discussão foi mais acalorada e a quantidade de nomes famosos era maior. Subiram ao palco o ex-vice-presidente Joe Biden; o autodeclarado socialista e senador por Vermont, Bernie Sanders; a senadora pela Califórnia, Kamala Harris; e o tímido, porém badalado nas redes sociais, Andrew Yang, dentre outros.

Biden apostou num discurso com críticas contundentes a Trump e usou de sua vasta carreira no governo para impressionar os telespectadores. Sanders adotou a mesma linha de pegar pesado com o atual presidente, além de apresentar suas promessas de serviços públicos grátis e zerar a dívida dos universitários, sem contudo saber explicar como executaria seu plano.

Kamala Harris foi a surpresa da noite. Com falas bem elaboradas e inserções calculadas durante as discussões entre outros candidatos, ela roubou a cena e se colocou como a solucionadora dos problemas raciais, étnicos e identitários do país. Andrew Yang talvez tenha sido o menos “progressista” de todos. Sem tanto protagonismo, ele ganhou destaque por ser o único a defender a proposta de uma renda básica de mil dólares para todos os americanos entre 18 e 65 anos.

Embora o Partido Democrata tenha (para usar uma gíria política das redes socias) “esquerdado de vez” e se voltado à defesa de agendas identitárias e até mesmo passado a utilizar o termo socialismo sem reservas, alguns pré-candidatos presentes nos debates adotaram discursos mais moderados.

Foi o caso, por exemplo, de John Hickenlooper, ex-prefeito de Denver, Colorado, que afirmou que, caso os democratas escolham um socialista como candidato em 2020, estarão garantindo a reeleição de Donald Trump. Já o prefeito Pete Buttigieg, de Indiana, mostrou ser simpático à participação da iniciativa privada na oferta de serviços de saúde, apontando críticas aos planos de Bernie Sanders de querer implementar uma espécie de SUS nos Estados Unidos.

Outro fato interessante sobre as duas noites de debate foi a defesa unânime de uma política pública federal que garanta o aumento do salário mínimo no país para 15 dólares a hora. A maioria dos debatedores também se mostrou favorável à inclusão de imigrantes ilegais na cobertura médica pública de forma gratuita. Por falar em imigração, foi curioso assistir a alguns candidatos, como Beto O’ Rourke e Julian Castro, arriscarem frases em espanhol para acenar ao eleitor latino.

Apesar do apoio da grande mídia e dos doadores de campanha, quem quer que seja o candidato oficial dos democratas no ano que vem não terá vida fácil para lograr vitória. Donald Trump acumula recordes expressivos na economia e goza de aprovação da classe média, além de ter resgatado parcerias importantes para os Estados Unidos na política externa e estabilizado conflitos internacionais.

Sabendo da dificuldade da missão, os democratas não escolheram o lugar para o primeiro debate entre pré-candidatos à toa. Começar pela Flórida, onde um presidente republicano eleito não perde desde Calvin Cooligde na década de 1920, é crucial para tentar atingir o eleitorado conservador.

O dilema, contudo, é como conquistar republicanos mais ao centro, ou até mesmo os libertários, quando 90% dos candidatos democratas defendem a expansão de políticas governamentais e parecem cada vez menos dispostos a cederem na insistência de perseguir e demonizar quem não for do seu espectro político.


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