Há assuntos que nunca saem de moda. Futebol, política e religião, por exemplo. Por muito tempo, criou-se uma falácia de que estes tres temas não poderiam ser trazidos a baila por serem complexos e exprimirem preferência pessoal em demasia. Porém, com o passar dois anos, esse mito caiu e hoje é comum vermos pessoas falando sobre política em bares e botequins, inclusive com o auxílio de vídeos para embasar as próprias opiniões.
Contudo, há um tema que provoca desconforto ao ser colocado em pauta: racismo. E o motivo é simples: houve uma apropriação do assunto por parte da esquerda mundial, de modo que, apenas quem faz parte da “panelinha ideológica” tem a chancela para tratar disso de forma “justa”.
Tanto é verdade que o escritor Antônio Risério, autor do artigo “Racismo de negros contra brancos ganha força com identitarismo” (publicado no site Folha de São Paulo em 15/01/2022) recebeu uma enxurrada de críticas de cunho preconceituoso, que tiveram sua gênese nos coletivos esquerdistas.
O autor, que é poeta, romancista e antropólogo, autor da obra “Sobre o relativismo pós-moderno e a fantasia fascista da esquerda identitária”, abre seu texto dizendo o seguinte:
“Sob a capa do discurso antirracista, esquerda e movimento negro reproduzem projeto supremacista, tornando o neorracismo identitário mais norma que exceção.”
A fala exposta foi suficiente para que a cúpula vermelha fosse tomada de cólera e ódio, a começar pelos parlamentares. Samia Bonfim, deputada federal pelo PSOL (Partido Socialismo e Liberdade – uma incoerência, diga-se de passagem) destilou seu veneno e publicou em sua conta no Twitter:
“Por que dar espaço pra um absurdo desses? Racismo reverso? Tantos intelectuais com tanto a dizer sobre o combate ao racismo e a luta do povo negro! Horrível!”
Com “tantos intelectuais”, a referida parlamentar quis dizer “com tantos intelectuais DE ESQUERDA…”
Se Samia não sabe, eu faço a gentileza de tornar público: Antonio Risério foi (ou ainda é, não se sabe ao certo) de esquerda. Publicou uma obra em 2002 chamada “Adorável comunista”, onde exalta a vida do líder comunista Fernando Sant’anna (que fez parte da Comissão da Ordem Economica da Constituinte e segundo-presidente da Subcomissão da Política Agrícola e Fundiária e da Reforma Agrária, além de ter sido integrante da Frente Parlamentar Nacionalista). Também integrou o núcleo de criação e estratégia de marketing das campanhas eleitorais de Lula e Dilma. Além disso, trabalhou no Ministério da Cultura durante a gestão do cantor Gilberto Gil.
De acordo com o que citei anteriormente, Risério faria parte da “panelinha”, logo, teria legitimidade (ou lugar de fala, como gostam as feministas) para tratar disso, certo? Porém, para os “vermelhos”, mais grave do que um anti-esquerda se manifestar, é alguém que compõe a cúpula ir na contramão das suas ideias. Risério inicia seu artigo dizendo:
“Todo mundo sabe que existe racismo branco antipreto. Quanto ao racismo preto antibranco, quase ninguém quer saber. Porém, quem quer que observe a cena racial do mundo visualiza que o racismo negro é um fato.”
Da deputada supracitada à cantora Zélia Duncan, todos da linhagem ideológica a esquerda se revolveram em choro e ranger de dentes, atribuindo a Risério adjetivos inomináveis. Porém, podemos com extrema facilidade provar que ele está correto: há racismo de negros contra os demais, não apenas contra brancos, e ele é fomentado pela ala vermelha. Antes, porém, se faz necessário recorrer ao texto da lei para esclarecer o que é racismo:
Lei do Crime Racial – Lei 7716/89 | Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989
Art. 1º Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. (Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)
Art. 3º Impedir ou obstar o acesso de alguém, devidamente habilitado, a qualquer cargo da Administração Direta ou Indireta, bem como das concessionárias de serviços públicos.
Art. 4º Negar ou obstar emprego em empresa privada.
Art. 16. Constitui efeito da condenação a perda do cargo ou função pública, para o servidor público, e a suspensão do funcionamento do estabelecimento particular por prazo não superior a três meses.
Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. (Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)
§ 1º Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo. (Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97)
Agora está na hora de ilustrar o texto da lei com um exemplo recorrente:
Em uma matéria publicada no portal IG em 06/06/2019, uma veterinária registrou boletim de ocorrência contra sua funcionária, que era empregada doméstica. A matéria, intitulada “Patroa branca registra queixa de racismo contra doméstica em São Paulo”, relata que a veterinária Anna Luiza Ferraz, de 32 anos, compareceu a Polícia Civil de São Paulo para oficializar um B.O; porém, segundo sua advogada, Roselle Soglio, a empresária permaneceu na delegacia por mais de duas horas porque os agentes não queriam lavrar a ocorrência.
As ofensas dadas como racismo foram feitas em abril do mesmo ano, quando a funcionária, que havia se desentendido com a sua patroa, enviou, por engano, uma mensagem de voz ao marido da patroa. No áudio, a empregada se referia a Anna Luiza como a “encardida do sul” e a “cachorra do sul” (Anna Luiza é oriunda do estado do Paraná).
Consultando um site de cunho esquerdista para compor este artigo, deparei-me com uma definição de racismo que vai contra o texto da lei:
“Vou partir daqui do exemplo que me perguntaram, se uma pessoa negra trata mal uma pessoa branca apenas por ela ser branca isso não é racismo? Não, isso não é racismo pode até ser preconceito e discriminação! Ops, mais qual a diferença Lia? Preconceito e discriminação estão sempre ligados às relações entre indivíduos, já o racismo à estrutura social de dominação.”
O texto da lei não traz esta “discriminação”, e utilizo o termo porque, segundo esta moça, brancos não sofrem racismo, e este tipo de afirmação transmite a ideia errônea de que negros podem se utilizar de termos pejorativos e preconceituosos, ao passo que, se brancos fizerem o mesmo, será considerado crime.
Aos fatos, mais uma vez:
Risério cita uma agressão ocorrida em Washington, nos Estados Unidos, de um coletivo “antirracista” contra brancos no metro. Um dos adolescentes presentes chegou a gritar: “Matem todos os brancos!”. O caso foi parar no jornal The Washington Post, porém não como um caso de racismo, mas de “conflito cultural”. Um membro de uma gangue chegou ao cúmulo de afirmar que: “Fizemos um acordo entre nós de não roubar mulheres pretas (…) Só gente branca.” E a questão da estrutura social de dominação?
Imagine uma empresa de negócios que vende apenas para negros. A plataforma Mercado Black Money (literalmente, dinheiro negro) foi criada para “ajudar” negros em razão da pandemia, que limitou os trabalhos de todos (vale lembrar que o agronegócio não parou suas atividades, muito menos fez acepção de pessoas durante a quarentena). O próprio lema da empresa é, no mínimo, segregador: “Compre preto, venda para todos”. Resumindo: se for para o negro ganhar dinheiro, está liberado fazer negócios com todas as raças, mas se o empreendedor for branco, asiático ou judeu, “aí já são outros quinhentos”. Pergunto eu para dona Lia: este tipo de “empreendimento” não seria uma dominação social?
Falando em racismo contra judeus, trago aqui um episódio citado por Risério em sua coluna:
“Em Crown Heights, no verão de 1991, os pretos promoveram um formidável quebra-quebra que se estendeu por quatro dias, durante o qual gritavam ‘Heil Hitler’ em frente a casas de judeus. Mas a elite midiática, do NYT a ABC, contornou sistematicamente o racismo, destacando que séculos de opressão explicavam tudo”.
Adolf Hitler desenvolveu uma obsessão em retornar a “raça ariana”. Segundo evolucionistas do século XIX, a “raça ariana” teria surgido dos indo-europeus e aos seus descendentes não miscigenados com outros povos. De acordo com interpretação de argumentos etnolinguísticos, a raça ariana seria a mais representativa da nobreza humana e a mais pura descendente da população proto-indo-europeia. Era isso que Hitler queria “resgatar” na Alemanha. Tal feito culminou na morte de milhões de judeus, homossexuais, deficientes e, claro, de negros.
Lembre-se do que foi escrito nas primeiras linhas deste artigo: quem não faz parte da “panelinha ideológica” não pode opinar, mesmo que o assunto seja racismo e tenha sido abordado por um negro. Os mesmos membros da panela, contudo, vociferam aos quatro ventos defenderem a tal “pluralidade de ideias”.
E o que acontece com Sérgio Camargo, presidente da Fundação Palmares. Ele, que é conservador, ao tratar da temática racial, é vilipendiado nas redes sociais por expressar um pensamento contrário ao do grupo vermelho. Os últimos ataques tem sido em relação à mudança de nome da Fundação, que pode receber o nome da distinta Princesa Isabel ou do abolicionista André Rebouças. Para a esquerda, retirar o nome “Palmares” da instituição é “apagar a história”. Vejamos…
Na obra “1984”, George Orwell traz o personagem Winston, que trabalha no Ministério da Verdade. Sua função era, literalmente, reescrever a história , alterando dados de jornais e documentos. Cito um trecho do livro supracitado:
“Esse processo de alteração contínua valia não apenas para jornais como também para livros, periódicos, panfletos, cartazes, folhetos, filmes, trilhas sonoras, desenhos animados, fotos – enfim, para todo tipo de literatura ou documentação que pudesse vir a ter algum significado político ou ideológico. Dia a dia e quase minuto a minuto o passado era atualizado.”
Baseado nesta citação, podemos trazer inúmeros exemplos que ocorreram com a criação do coletivo Black Lives Matter. Com a desculpa de apagar o racismo da história, o grupo espalhado ao redor do mundo promoveu inúmeros episódios de vandalismo e baderna, além de ataques ferozes ao cristianismo.
“Sim, acho que as estátuas do europeu branco que eles alegam ser Jesus também devem cair (…) Elas são uma forma de supremacia branca. Sempre foram (…) Todos os murais e vitrais de Jesus branco, sua mãe européia e seus amigos brancos também devem ser retirados (…) Eles são uma forma grosseira de supremacia branca”.
O tal coletivo negro que, é sabido, recebeu financiamento de banqueiros brancos, derrubou uma estátua do coronel Hans Christian Heg, um imigrante da Noruega que morreu lutando pela União contra a escravidão. O episódio aconteceu na cidade de Madison, Winsconsin.
Voltando à Fundação Palmares, não poderíamos esquecer de Zumbi, considerado um herói para os negros que foram doutrinados. Trago aqui uma citação do historiador Leandro Narloch, publicada em sua obra “Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil”:
“Zumbi, o maior herói negro do Brasil, o homem em cuja data de morte se comemora em muitas cidades do país o Dia da Consciência Negra, mandava capturar escravos de fazendas vizinhas para que eles trabalhassem forçados no Quilombo dos Palmares. Também sequestrava mulheres, raras nas primeiras décadas do Brasil, e executava aqueles que quisessem fugir do quilombo. Essa informação parece ofender algumas pessoas hoje em dia, a ponto de preferirem omiti-la ou censurá-la, mas na verdade trata-se de um dado óbvio. É claro que Zumbi tinha escravos.”
Talvez aqui caiba o discurso de que o racismo está ligado à estrutura de dominação, como disse a blogueira dona Lia. O problema é que não agrada aos ouvidos da turma da “pluralidade de ideias” um discurso que confronte toda a mentira em que foram inseridos por anos. Aliás, a tal pluralidade para a ala vermelha funciona assim: concorda comigo ou vá para “el paredón”.