Proibiram as pregações do “profeta mirim” nas redes. Que alívio! Agora, sim, o Brasil está salvo do estelionato espiritual. Só esqueceram de combinar com a Constituição.
Ainda que o espetáculo protagonizado pela criança tenha todos os ingredientes do oportunismo religioso, a decisão do Conselho Tutelar é, no mínimo, preocupante. Afinal, desde quando é o Estado quem decide o que é fé legítima ou não? Em sociedades minimamente civilizadas, essa função cabe aos fiéis — não ao fiscal de balança, nem ao burocrata de plantão.
A proteção da infância, claro, é um valor sagrado, mas onde estava todo esse zelo quando meninas como Mc Melody eram expostas e sexualizadas em rede nacional sem qualquer freio institucional? Onde está o Conselho Tutelar quando crianças são usadas em coreografias explícitas no TikTok, quando pequenos influencers são empurrados para o estrelato digital com agendas de adulto, ou quando shows de “drag kids” viralizam nas redes?
Evidentemente, essa seletividade não é aleatória. Hoje é o “profeta mirim”, amanhã pode ser qualquer expressão de fé que desagrade ao gosto dos burocratas. E, como se não bastasse, essa repressão ainda tem efeito reverso: alimenta a narrativa da perseguição, transforma o garoto num mártir precoce e garante a ele um futuro de holofotes. Resultado previsível: audiência multiplicada, seguidores fanáticos, e um retorno triunfal aos 18, mais eloquente e blindado do que nunca.
É realmente triste ver pais terceirizando a consciência e transformando o filho num produto de púlpito, contudo é ainda mais grave quando o Estado resolve concorrer com Deus — ou, pior, brincar de inquisidor iluminado.
Se há charlatanismo, que se prove à luz do dia. Contra a mentira, não se usa mordaça, mas argumentos. O que cura a mercantilização da fé nunca foi a caneta do burocrata, e sim a boa e velha exposição pública: com luz e verdade.