Recentemente, houve todo aquele alarido a respeito da Amazônia, aliando-se ao discurso da Greta Thumberg aduzindo que o seu futuro foi roubado. Mas o que está por trás de toda essa nefasta agenda global? Como que em décadas toda a humanidade adentrou a um discurso psicótico que visa divinizar a natureza? Vejamos…
O ambientalismo como religião do século
O homem ocidental moderno experimenta um certo mal estar diante de inúmeras formas de manifestações do sagrado: é difícil para ele aceitar que, para certos seres humanos, o sagrado possa manifestar-se em pedras ou árvores, por exemplo. Mas, como não tardaremos a ver, não se trata de uma veneração da pedra como pedra, de um culto da árvore como árvore. A pedra sagrada, a árvore sagrada não são adoradas com pedra ou como árvore, mas justamente porque são hierofanias, porque “revelam” algo que já não é nem pedra, nem árvore, mas o sagrado, o ganz andere.
-O sagrado e o profano, Mircea Eliade, página 13
Em certo sentido, toda a criação da ordem simbólica do Ocidente era voltada para a criação de apenas um tipo de símbolo. Eric Voegelin, investigador desse fenômeno em Ordem e História, nos rememora que as antigas sociedades, as sociedades egípcias, persas, etc; baseavam-se no símbolo cosmológico aliado ao símbolo político. O faraó era Deus. O líder supremo da nação se encarnava no símbolo aglutinador de toda a ordem daquela sociedade.
Paralelamente, em Israel e revelação, ele nos rememora que esses símbolos são divididos com o surgimento do evento da sarça ardente, documentado no Antigo Testamento para os cristãos e na Torá para os judeus; a sarça ardente evidencia para Moisés e testemunha ao mundo inteiro que a ordem do universo não está mais aliada a presença física de um representante político, mas está ligada diretamente a representação da ordem do Ser; o Deus – aquele que é – se manifesta como além do tempo. Segundo vários historiadores ocidentais é somente a partir daí que se inicia a história humana de fato.
Como antigamente, a divindade e a representação casavam-se numa representação in persona em que todo o tempo histórico era cíclico. O tempo profano e o tempo sagrado se misturavam, como diz o Mircea Eliade:
Surpreende nos em primeiro lugar uma diferença essencial entre essas duas qualidades de Tempo: o tempo sagrado é por sua própria natureza reversível, no sentido em que é, propriamente falando, um Tempo mítico primordial tornado presente. Toda festa religiosa, todo Tempo litúrgico, representa a reatualização de um evento sagrado que teve lugar num passado mítico, “nos primórdios”.
-O Sagrado e o Profano, Mircea Eliade, página 38
Mesmo na cultura judaico-cristã há sempre a presença do tempo sagrado que é cíclico e repetido. Basta lembrar das festas judaicas e também da Páscoa católica. O tempo é repetido, mas é dividido do tempo profano, pois entende-se a divindade como pessoa sobrenatural, para além da natureza e, portanto, acima do tempo cósmico. O que diferencia o antigo tempo pagão: era sempre cíclico e alicerçado aos acontecimentos sociais, políticos, etc.
Acontece que há nesse movimento ambiental o conceito implicado de Mãe terra. Para os incautos ou ignorantes no assunto, essa expressão é tipicamente pagã e remonta exatamente aos tempos cíclicos e ligados a divindade cósmica, dentro da história humana. Por que não chamamos os mitos gregos, romanos ou nórdicos de religião? Porque religião vem de religare – ligar o homem a Deus – e, portanto, para esse movimento, é necessário que Deus esteja dissociado e distanciado do alcance humano. Como esses mitos associavam eventos da natureza como a própria divindade, não bastava a criação de uma religião. Custava apenas a realização de sacrifícios para aplacamento da ira divina, tais sacrifícios sempre ligados a eventos que eram ocorridos dentro da história daquela sociedade.
Entretanto, como diz Chesterton:
A essência de todo o panteísmo, do evolucionismo e da moderna religião cósmica está, realmente, nesta afirmação: a Natureza é nossa mãe. Infelizmente, se olharmos a Natureza como mãe, descobriremos que ela é uma madrasta . A questão principal do Cristianismo era esta: a Natureza não é nossa mãe; a Natureza é nossa irmã. Podemos orgulhar-nos da sua beleza, pois temos o mesmo pai; mas ela não tem nenhuma autoridade sobre nós; temos de admirá-la, mas não imitá-la.
-Ortodoxia, G.K Chesterton
Ao colocarmos a natureza como um ente superior a nós, tendemos a desvalorizar a dignidade humana. Além disso, entramos novamente no processo histórico das civilizações pagãs, o que significa a abertura aos mesmos sacrifícios de antigamente. Para quem duvida disso é só lembrar da estátua de Moloch (deus pagão, fundador do feminismo e maior incentivador do aborto) que está em exposição em frente ao Coliseu; e adivinha quem será a primeira opção de sacrifício? Isso mesmo, nós.
A divinização dos fenômenos da natureza também abre espaço para a disseminação da ordem com a união dos dois símbolos: o símbolo cósmico e o político reunidos na mesma pessoa. É por este motivo que quem discorda da opinião ambientalista tende a ser execrado da vida humana, além de ganhar status de herege, digno de ser colocado na fogueira da história. E é esse o pesadelo que Greta Thunberg deseja para nós. É a frase do Chesterton: onde houver adoração a animais haverá sacrifício humano.
A resposta dos conservadores
Alguns podem pensar então que a saída para os conservadores é a rejeição com qualquer tipo de preocupação com o meio ambiente. Mas isso é errado. Roger Scruton, em Filosofia Verde, relembra que é dever de todo conservador ser um ecologista em oposição aos ambientalistas. O ecologista é aquele que compreende a natureza como símbolo do divino, mas jamais como o próprio divino. Sabe colocar tudo em seu devido lugar: o homem enquanto topo da criação e responsável por toda ela, bem como Deus acima de todos como principio originador de todas as coisas.
Assim, o conservador também divide os símbolos cósmicos e políticos, transformando a política como arte do bem e não como a ordem de toda a sociedade fundada numa única presença humana.