Recentemente, o mundo foi palco de um grande alarido sobre a Amazônia, ecoando o clamor da ativista Greta Thunberg, que afirmava ter seu futuro roubado. O que motiva essa agenda global, que parece transformar o discurso ambiental em um movimento quase religioso? Vamos examinar o que está por trás desse debate e como ele se relaciona com simbolismos antigos e a política moderna.
O ambientalismo como religião do século
O homem moderno enfrenta um desconforto profundo diante das diversas formas de manifestações do sagrado. Mircea Eliade, em “O Sagrado e o Profano”, discute a dificuldade que o homem contemporâneo tem de aceitar que, para alguns, o sagrado se manifesta em pedras ou árvores. Contudo, não se trata de uma simples adoração à pedra ou à árvore por si só. A pedra sagrada, a árvore sagrada, são vistas como hierofanias, revelando algo que vai além de sua mera materialidade — o sagrado, o “ganz andere”, ou o “totalmente outro”.
O homem ocidental moderno experimenta um certo mal estar diante de inúmeras formas de manifestações do sagrado: é difícil para ele aceitar que, para certos seres humanos, o sagrado possa manifestar-se em pedras ou árvores, por exemplo. Mas, como não tardaremos a ver, não se trata de uma veneração da pedra como pedra, de um culto da árvore como árvore. A pedra sagrada, a árvore sagrada não são adoradas com pedra ou como árvore, mas justamente porque são hierofanias, porque “revelam” algo que já não é nem pedra, nem árvore, mas o sagrado, o ganz andere.
– O sagrado e o profano, Mircea Eliade, página 13
Eric Voegelin, em sua obra “Ordem e História”, discute como a ordem simbólica do Ocidente foi construída para criar um tipo singular de símbolo. Sociedades antigas, como as egípcias e persas, baseavam suas estruturas no símbolo cosmológico aliado ao político — o faraó era Deus. Com o evento da sarça ardente, documentado no Antigo Testamento, a ordem universal desvinculou-se da representação política imediata, estabelecendo que a verdadeira ordem era a do Ser, além do tempo e da imagem física de um governante.
Como antigamente, a divindade e a representação casavam-se numa representação in persona em que todo o tempo histórico era cíclico. O tempo profano e o tempo sagrado se misturavam, como diz o Mircea Eliade:
Surpreende nos em primeiro lugar uma diferença essencial entre essas duas qualidades de Tempo: o tempo sagrado é por sua própria natureza reversível, no sentido em que é, propriamente falando, um Tempo mítico primordial tornado presente. Toda festa religiosa, todo Tempo litúrgico, representa a reatualização de um evento sagrado que teve lugar num passado mítico, “nos primórdios”.
– O Sagrado e o Profano, Mircea Eliade, página 38

Mesmo nas tradições judaico-cristãs, há uma coexistência do tempo sagrado e cíclico, visível nas festas judaicas e na Páscoa católica. No entanto, essas práticas mantêm uma clara divisão entre o tempo sagrado e o tempo profano, reconhecendo a divindade como algo além da natureza e portanto, fora do tempo cósmico. Isso difere do antigo tempo pagão, que era cíclico e firmemente ancorado nos acontecimentos sociais e políticos.
O Retorno do Paganismo com Face Moderna
No movimento ambiental moderno, há um conceito central de “Mãe Terra”, que remonta a conceitos pagãos antigos, onde cada elemento natural era parte de um ciclo divino contínuo. Esses mitos, como os gregos, romanos ou nórdicos, não são tratados como religião no sentido estrito pois religião, do latim “religare”, implica uma conexão do homem com um Deus transcendente, que não está resumido à natureza. Nos mitos, os eventos da natureza eram a divindade, dispensando uma religião formal — bastavam sacrifícios para aplacar deidades.
Entretanto, como diz Chesterton:
A essência de todo o panteísmo, do evolucionismo e da moderna religião cósmica está, realmente, nesta afirmação: a Natureza é nossa mãe. Infelizmente, se olharmos a Natureza como mãe, descobriremos que ela é uma madrasta . A questão principal do Cristianismo era esta: a Natureza não é nossa mãe; a Natureza é nossa irmã. Podemos orgulhar-nos da sua beleza, pois temos o mesmo pai; mas ela não tem nenhuma autoridade sobre nós; temos de admirá-la, mas não imitá-la.
– Ortodoxia, G.K Chesterton
Com a natureza elevada ao status de divina, corre-se o risco de desvalorizar a dignidade humana. O ressurgir dessas crenças pagãs abre espaço para os mesmos tipos de sacrifícios, refletidos simbolicamente na exposição da estátua de Moloch perto do Coliseu, um deus pagão associado a sacrifícios e em tempos modernos, simbolicamente ao feminismo alardeado e à defesa do aborto, entre outras causas contemporâneas controversas.
A divinização dos fenômenos naturais leva a uma fusão dos símbolos cósmicos e políticos. Criticar a doutrina ambientalista atual pode levar a uma exclusão social comparável à heresia, e os opositores são relegados ao ostracismo, como figuras a serem queimadas na fogueira da opinião pública. Esta é a visão que Greta Thunberg propaga, arriscando um retorno à barbárie, como descrito pela famosa citação de Chesterton: “Onde houver adoração a animais haverá sacrifício humano.”
A Perspectiva Conservadora sobre o Meio Ambiente
Não significa que os conservadores devem ignorar a preservação ambiental. Roger Scruton, em “Filosofia Verde”, ressalta que todos os conservadores devem ser ecologistas, não ambientalistas. O ecologista respeita a natureza como um símbolo do divino sem substituí-la pelo próprio divino. A natureza é admirada sem perder de vista a posição do homem como topo da criação, responsável por cuidar da Terra, com Deus acima de tudo como o criador de todos.
Deste modo, a política deve ser entendida como a arte do bem comum, não como o símbolo aglutinador de uma única presença humana ou de uma divindade substituta, mas como um esforço coletivo em busca de uma ordem equilibrada, que respeite tanto a criação quanto o criador.
A mensagem para os conservadores é clara: ocupar espaços não significa negar preocupações ambientais, mas reordená-las com sabedoria, balanceando o progresso com valores fundamentais, defendendo a dignidade humana acima de tudo, e garantindo um futuro onde tradição e inovação coexistem de maneira harmoniosa e sustentável