“Cristãos petistas” estão em choque: Lula não era contra o aborto?

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Há uma expressão deveras utilizada por quem tem costume de acessar informações pelo computador: “Deus perdoa, a internet, não”. Isso porque o que “cai na rede” dificilmente será esquecido. A informação, que antes era veiculada apenas por meios impressos e limitada a um número de pessoas, agora pode ser acessada em qualquer parte do planeta, graças à internet. E ainda que alguém apague determinada notícia, o “Santo Print” – a quem chamo de padroeiro da internet – sempre salva tudo o que se pretendia esconder.

Foi exatamente isso que aconteceu nas eleições de 2022: um vídeo utilizado no pleito de 1989 foi resgatado para dizer que Lula era a favor do aborto. O material em questão era um depoimento da ex-mulher do petista, Miriam Cordeiro, que teria sido coagida a realizar o procedimento:

“Como é que eu posso apoiar um homem que me ofereceu dinheiro, quando soube que eu estava grávida de um filho dele, para eu abortar? (…) No dia seguinte, ele me encontrou e já veio com o dinheiro. Ele me disse: ‘Miriam, esse filho não pode nascer’”

Relembrar um caso de 33 anos atrás faz com que a ala vermelha da força entrasse em desespero; afinal, o cidadão comum repudia o aborto. E para piorar a situação, Lula havia participado de um evento realizado pela Fundação Perseu Abramo (FPA) e pela Fundação Friedrich Ebert (FES), em Abril de 2022, onde disse que aborto é “questão de saúde pública”:

No Brasil, por exemplo, as mulheres pobres morrem tentando fazer o aborto, porque é ilegal (…) As mulheres pobres não fazem porque é proibido. Quando, na verdade, deveria ser transformado em uma questão de saúde pública. Todos deveriam ter o direito de fazer o aborto e não ter vergonha. Não quero ter filho, vou cuidar de não ter filho.”

Para amenizar a “trapalhada petista”, Lula gravou um vídeo para sua campanha se dizendo contra o aborto:

Não só eu sou contra o aborto, como todas as mulheres que eu casei são contra o aborto”

Obviamente que quem conhece o modus operandi da esquerda – do PT, em especial – sabe que verdade e ética são itens os quais a tropa vermelha não chega sequer perto. Porém, infelizmente, muitos compraram esta propaganda e acreditaram mesmo que Lula era contra o aborto, mesmo quando os conservadores mostraram um documento do partido que prova o exato oposto.

Essa “carta na manga” de Lula fez com que padres e pastores se rendessem ao discurso e se esquecessem do que Nosso Senhor Jesus disse: “Não pode a árvore boa dar maus frutos; nem a árvore má dar frutos bons. Toda a árvore que não dá bom fruto corta-se e lança-se no fogo. Portanto, pelos seus frutos os conhecereis.” (Mateus 7:18-20).

Com o fim das eleições e Lula eleito, restou aos conservadores repetir a célebre frase “Eu avisei”, começando com a questão do aborto.

Lula nomeou para o Ministério da Saúde Nísia Trindade, socióloga, cientista social e professora – nada de Medicina no currículo, diga-se de passagem. Foi a primeira mulher a presidir a FIOCRUZ e, na pandemia “coordenou o acordo de encomenda tecnológica na articulação com o Ministério da Saúde do Brasil, a Universidade de Oxford, a farmacêutica AstraZeneca e as unidades de produção locais, para a realização dos testes clínicos, registro sanitário e a produção de milhões de doses da vacina contra a COVID-19 da AstraZeneca-Oxford no Brasil.” (Informações do Wikipedia).

E Nísia, mesmo sendo mulher, é a favor do aborto. No discurso de posse, adiantou que iria revogar portarias e notas técnicas que, para ela, vão contra a “ciência”, os direitos humanos ou os “direitos sexuais reprodutivos“. Como que uma mulher deseja isso a outra mulher?

E para fechar com chave de lama (porque de ouro é que não seria), Lula resolveu retirar o Brasil da declaração internacional contra aborto, ação esta feita pelo presidente Jair Bolsonaro. O documento ficou conhecido como Declaração do Consenso de Genebra sobre Saúde da Mulher e Fortalecimento da Mulher. O texto afirma que “não há direito internacional ao aborto nem qualquer obrigação internacional por parte dos Estados de financiar ou facilitar o aborto”. Ao todo, 36 países assinaram a declaração de Genebra, como Egito, Hungria, Indonésia, Arábia Saudita, Paquistão e Uganda.

Mesmo com todos os avisos dados pelos conservadores, muitos líderes religiosos resolveram embarcar na campanha petista. Um exemplo é dom Odilo Scherer, Arcebispo de São Paulo. Ele parabenizou Lula pela vitória e escreveu uma “cartinha”, pedindo que o novo governo se comprometa a promoção da vida e da dignidade humana, da justiça e da paz social, empenhado “sobretudo, na busca de caminhos para o desenvolvimento econômico e social que beneficie a todos, especialmente aqueles que mais sofrem com os impactos da crescente desigualdade social, do desemprego e da fome”.

O mesmo dom Odilo – que, vale ressaltar, é próximo de Geraldo Alckmin – fez uma publicação, no mínimo, curiosa. No dia 17 de Outubro de 2022, dias antes do segundo turno, ele publicou um texto de autoria de Celso Lafer, ex-ministro das Relações Exteriores e um dos responsáveis pela organização da ECO92, evento de cunho ambientalista.

O texto de Lafer fala sobre os anos de formação do filósofo e historiador italiano Norberto Bobbio (1909-2004), que vivou na Itália no período do fascismo de Benito Mussolini. Segundo Bobbio, as práticas do regime eram “a glorificação da violência; a contestação da democracia, do Estado de Direito e da divisão dos Poderes; a afirmação belicosa de um Estado potência no plano internacional”. E claro que, republicar este texto não caiu nada bem para o Arcebispo, que foi acusado de ser comunista e defensor do aborto.

E mais: no mesmo dia, ele havia tuitado o seguinte: “Conheço bastante a história. Às vezes, parece-me reviver os tempos da ascensão ao poder dos regimes totalitários, especialmente o fascismo. É preciso ter muita calma e discernimento nesta hora!”

Mas, com as ações de Lula favoráveis ao aborto, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou uma nota repudiando tais atitudes:

“A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) não concorda e manifesta sua reprovação a toda e qualquer iniciativa que sinalize para a flexibilização do aborto. Assim, as últimas medidas, a exemplo da desvinculação do Brasil com a Convenção de Genebra e a revogação da portaria que determina a comunicação do aborto por estupro às autoridades policiais, precisam ser esclarecidas pelo Governo Federal, considerando que a defesa do nascituro foi compromisso assumido em campanha”.

Contudo, é necessário ressaltar que muitos religiosos apoiaram a candidatura de Lula, mesmo sabendo a verdade. É louvável que a CNBB emita esta nota, porém esta atitude deveria ter sido realizada muito antes, durante o pleito, orientando os fiéis sobre os riscos de eleger alguém que possui práticas divergentes à fé cristã.

Agora, muitos se dizem surpresos nas redes, mas não foi por falta de aviso.


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