“Nada está na política que não esteja antes na literatura.”
Hugo Von Hofmanstal
Recentemente saiu uma nova pesquisa eleitoral que indicava o presidente Jair Bolsonaro como favorito para a reeleição em todos os cenários e contra todos os possíveis candidatos: Haddad, Lula, Sergio Moro e até mesmo Luciano Huck. Isso não foi uma surpresa. Quero explicar um pouco mais e tentar direcionar o leitor para o foco que devemos adotar a partir de hoje.
Todo motivo de desespero da direita ou de pessoas que estão alinhadas com tal cosmovisão é a falta de compreensão de que para um cenário político existir ele precisa ser impresso anteriormente em alguma fonte escrita.
Toda a revolução ou mudança estrutural na sociedade necessita de uma fonte escrita. Na era medieval, os escritos que deram base à transformação de uma sociedade barbara para uma sociedade cristã foi a junção das escrituras com a tradição cristâ cristalizada nos ensinamentos, homilias e cartas dos bispos do Século I.
A Revolução Russa possuía uma vasta documentação de seus autores. Intelectuais como Karl Marx ou literatos que, sem qualquer interesse aparente, apenas retrataram a sociedade de seu tempo. Na obra “Crime e Castigo”, Dostoievski já nos traz personagens ressentidos e com uma revolta diante do mundo, capazes de matar para ver o seu ideal em prática. Isso não lhe lembra o partido bolchevique?
No Brasil, durante o regime militar, as autoridades resolveram combater a esquerda no âmbito da guerrilha enquanto fomentava as agitações em universidades, redações ou editoriais. Aliado a isso, os maiores expoentes conservadores eram escorraçados e jogados no lixo da vida pública. Homens como Nelson Rodrigues ou Carlos Lacerda foram esquecidos.
Em pouco tempo, toda a cultura, todo o saber acumulado daquele período foi escrito pelos socialistas, bem como a estrutura partidária e as redações. A estrutura pública foi tomada pela esquerda e todos que se formaram na academia tinham essa mentalidade, ainda que não soubessem defini-las em palavras.
Imediatamente inúmeros ideais sumiram do país. A tradição católica foi jogada para escanteio pela teologia da libertação. A liberdade de mercado e o liberalismo se tornaram heresias e o conservador virou sinônimo de bicho papão.
Entretanto, o que fugiu ao radar da esquerda foi a obra do professor Olavo. A medida que ele buscava restaurar a intelectualidade brasileira, a alta cultura e muitos desses ideais, era vilipendiado na vida pública. Tentaram a todo custo abafar a sua filosofia. Debocharam e menosprezaram suas opiniões, não dando a elas nem mesmo a dignidade de estudá-las. Acreditavam ter o jogo ganho por possuírem a máquina estatal e menosprezaram a força da autoridade intelectual.
Há três tipos de autoridade capazes de influenciar o poder: a autoridade intelectual/espiritual, a autoridade político/militar e a autoridade econômica. As duas últimas são de efeitos imediatos, porém são inteiramente pautadas pela primeira. O ambiente intelectual fornece a todos os indivíduos as ideias, opiniões e esquemas que irão utilizar para discutir, tomar decisões e aventar novas possibilidades de desenvolver a vida.
Com isso, a briga que o professor Olavo comprou com toda a academia esquerdista deu à direita todo o ambiente intelectual necessário para que ela viesse a existir. Movimentos ligados à tradição católica, conservadores, monarquistas, intervencionistas; todos entraram pela janela que o professor abriu.
Além dos influenciadores digitais, os seus seguidores passam essas ideias para familiares e amigos. Denúncias de hegemonia ideológica e alunos questionando seus professores começaram a aparecer com frequência no YouTube e outras mídias sociais. A esquerda tentou realizar esse movimento em 2013, quando utilizou as redes para fomentar protestos como o Occupy, a Revolta dos 20 Centavos no Brasil e até a Primavera Árabe.
Mas, em nosso país, foi fundamental aquela blindagem para que toda uma demanda intelectual reprimida fosse direcionada ao único lugar onde você poderia se expressar livremente sem perder a sua reputação. Muitos descobriram pessoas que pensavam igual e começaram a se agrupar, ganhando força e coragem para ressoar aquelas ideias outrora proibidas.
O ambiente cultural do Brasil é único. Nenhum outro país possui um povo tão consciente dos seus valores. Vale lembrar que, enquanto o mundo amargava uma quarentena, os brasileiros foram os primeiros a se mobilizar para lutar pelos seus empregos e sua liberdade. Por mais que nenhuma dessas iniciativas estejam estruturadas conforme uma organização partidária (como acontece nos EUA, onde você possui vários CNPJ’s para defender essas ideias), elas já se espalharam e se tornaram parte do senso comum.
Sem a profundidade de um intelectual, o brasileiro sabe identificar seus inimigos. Sabe de onde vem o problema e o que as antigas facções fizeram no período pós regime militar. A operação Lava Jato escancarou essa ferida aos nossos olhos, mostrando os esquemas do Partido e, agora, também já coloca a sua mira no partido da oposição que integrou a outra metade do teatro das tesouras, ajudando a ampliar a percepção da população.
Por mais que o movimento conservador tenha dificuldades em produzir algo com sua própria marca e assinatura, no âmbito editorial é avassalador: todos os dias surgem novas publicações, edições de livros, reedições, etc. É esse o ambiente que vivemos e é por isso que sinto-me tranquilo com qualquer situação eleitoral e movimentos de rua da esquerda (como os ANTIFA’s).
Desde quando as torcidas organizadas ameaçaram sair na rua, eu já sabia que o movimento minguaria, pois além da fonte de financiamento da esquerda ter sido desidratada, o ambiente de ideias brasileiro é inteiramente dominado pela direita, causando neles uma grande desorientação e a perda do timing para estratégias. Não há na esquerda ninguém capaz de perceber o cenário atual e descrevê-lo com exatidão para direcionar a opinião pública em favor deles.
José Dirceu reconheceu esse fato quando afirmou em uma live que “não disputaremos 2022, apenas 2026”. Evidente que tentarão se reorganizar, pois descobriram que perderam a proximidade com o povo e que o ambiente não está favorável a eles. Citarei um exemplo: hoje o Olavo entra na Jovem Pan e coloca 100.000 pessoas ao vivo em questão de segundos. Não existe sequer um intelectual de esquerda (e até mesmo artistas como Gilberto Gil, Caetano Veloso) que consiga chegar perto de fazer isso.
Você pode se perguntar: se o ambiente é tão favorável, por que parece que estamos acuados? A resposta é simples. É porque não possuímos espaços. A guerra intelectual se dá no terreno das ideias e essa está sendo vencida, mas a guerra cultural exige ocupação de espaços. Exige estrutura firmada em CNPJ para que possamos ter assistência jurídica, jornais, financiamento, revistas e canal de TV.
O problema é que a direita é dominada por uma mentalidade eleitoreira e “curto prazista” onde qualquer pessoa que desponte já é direcionada a um cargo público. Cargos são importantes? Sim, mas precisamos de um arsenal diverso de pessoas. É através desse exército que trabalha nas sombras que o presidente Jair Bolsonaro conseguirá governar com maior facilidade.
A nossa briga agora deve ser para possibilitar o governo do Presidente a colocar em pauta todas as ideias que foram capazes de elegê-lo e serão de reelegê-lo. Para isso é preciso cumprir dois objetivos: 1) palácio do Planalto desimpedido de pessoas que não compreendam tal cenário; 2) uma estrutura organizada para que os agentes da direita possam atuar de forma mais eficaz na sociedade. Precisamos sair do “curto prazismo” e focar no trabalho de médio/longo prazo.
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