Quem já leu 1984 se recorda da profissão de Winston: como funcionário do Ministério da Verdade, sua função era reescrever tudo:
“Esse processo de alteração contínua valia não apenas para jornais como também para livros, periódicos, panfletos, cartazes, folhetos, filmes, trilhas sonoras, desenhos animados, fotos – enfim, para todo tipo de literatura ou documentação que pudesse ir a ter algum significado político ou ideológico. Dia a dia e quase minuto a minuto o passado era atualizado.”
Há mais ou menos dez anos, tomei conhecimento de um jogo de RPG criado em 1994 – INWO (Illuminati New World Order) – e várias análises já foram feitas sobre este jogo, cujas cartas são, digamos, assustadoras. Algumas delas são “Controle das armas”, “Ataque terrorista nuclear”, “Epidemia”, “Desastres Combinados”, “Pentágono”, e a mais assustadora, “Redução populacional”. Contudo, hoje falaremos de outra carta: “Reescrevendo a história”.
Infelizmente, isso não é apenas uma simples história escrita por George Orwell, ou a invenção para um jogo, mas a nossa mais nova realidade. E a prova está aqui: clássicos da literatura serão reescritos para que “leitores sensíveis” não sofram; parece absurdo, mas obras de Shakespeare, Tolkien e até Chesterton serão reeditadas para não “ofender”.
A Puffin Books, selo da Editora Penguin para publicações infantis, revelou que, embora continue publicando versões “sem censura” de suas obras, ao mesmo tempo tentará agradar ao público woke, reeditando clássicos para que se adequem ao “gosto progressista”.
Um dos autores que sofrerá com isso é Roald Dahl; seus clássicos “A Fantástica Fábrica de Chocolate” e “Matilda” são algumas das que serão alteradas, mesmo a contragosto do povo britânico.
Em uma pesquisa realizada pelo Daily Mail, quase dois em cada três britânicos (60%) discordam da mudança nos livros infantis clássicos e 63% se opõem às mudanças recentes nos livros de Roald Dahl. Apenas 20% apoiaram as reedições.
Trago aqui algumas das alterações:
CHARLIE E A FÁBRICA DE CHOCOLATE
2001 – A Sra. Salt era uma grande criatura gorda com pernas curtas e soprava como um rinoceronte
2022 – A Sra. Salt estava tão sem fôlego que estava soprando como um rinoceronte
MATILDA
2001 – Obtenha sua mãe ou pai
2022 – Obtenha sua família
Agora, a alteração mais drástica é com a obra “O Mercador de Veneza”, de William Shakespeare: agora Shylock é uma matriarca do East End que enfrenta fascistas. A alteração para o teatro foi feita pela diretora Brigid Larmour, mudando todo o sentido da peça. A desculpa: este personagem seria antissemita e alterá-lo seria uma espécie de reparação histórica.
Os chamados sensitivity readers (leitores sensíveis) são um grupo de pessoas que passarão a “limpar” tudo aquilo que eles acharem inadequado – o mesmo trabalho de Winston. Eles são consultados para fazer revisões em alguns dos livros, para que as passagens relacionadas a peso, saúde mental, gênero e raça sejam alteradas.
Este grupo de pessoas servirão apenas para alimentar uma geração fraca e que não está disposta a encarar suas lutas; Nosso Senhor Jesus disse: “No mundo tereis AFLIÇÕES, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo.” (João 16:33). Percebam: o Filho de Deus garantiu que teríamos aflições, problemas, dificuldades; e são estas mesmas dificuldades que moldam o caráter. Eu, como mãe, não desejo que meu filho sofra; contudo, sei que é minha obrigação prepará-lo para o mundo. E privá-lo de “palavras inadequadas” não ajudará, pelo contrário.
A geração woke diz que devemos praticar a inclusão; certo, queremos isso, mas não às custas da retirada da liberdade de expressão e da alteração de clássicos para “não ofenderem”. Infelizmente, muitos deste movimento woke são utilizados como massa de manobra para praticarem a revolução por meio dessas alterações. E não fazem ideia de que esta mesma revolução os engolirá, cedo ou tarde.