Eu nasci em 1989, ano da queda do muro de Berlim; os anos 1990 foram marcados por vários acontecimentos: ascensão da MTV, fim da URSS, a assinatura do primeiro acordo de paz entre Israel e Palestina. E também foi a era do auge das top models. Nessa altura havia uma pequena elite de manequins que faziam as capas das revistas, brilhavam nas passerelas internacionais e corriam o mundo saltando de festa em festa.
As três modelos mais famosas – e mais bem pagas – da época eram Cyndi Craword, Claudia Schiffer e Naomi Campbell; e elas inspiraram uma geração de meninas a almejar as passarelas. Contudo, muitas agências passaram a exigir que as jovens emagrecessem um, dois ou mais números. Para não perderem o sonho, as meninas se submetiam a tais práticas. Então, duas doenças passaram a parte do mundo da moda: anorexia e bulimia.
A anorexia é um distúrbio alimentar que provoca uma perda de peso acima do que é considerado saudável para a idade e altura. Esse emagrecimento excessivo é causado pela auto inanição, estado de debilidade provocado pela falta de alimentação. Já no caso da bulimia, a pessoa oscila entre comer exageradamente, com um sentimento de perda de controle da alimentação, e episódios de vômitos ou abusos de laxantes para tentar impedir o ganho de peso.
Muitas meninas que eram “orientadas” por certas agências a emagrecer mais do que deveriam começaram a ficar doentes porque passaram a desenvolver uma visão distorcida sobre o próprio corpo. E, infelizmente, algumas não suportaram. Médicos e agências de renome se uniram para discutir soluções tamanha a gravidade do problema.
Contudo, nos nossos dias, estamos em outro extremo: vivemos na era da romantização da obesidade mórbida. A obesidade mórbida ocorre quando o peso de uma pessoa ultrapassa o valor 40 no índice de massa corporal – (IMC).
O que era para ser um movimento de “inclusão” daquelas que são mais “cheinhas” tornou-se um ativismo em favor de uma doença grave; a obesidade mórbida pode levar ao desenvolvimento de diabetes tipo 2, problemas cardíacos, risco de desenvolver IAM (Infarto Agudo do Miocárdio), ou AVE (Acidente Vascular Encefálico) isquêmico, entre outras complicações. Mas, envenenadas pelo mantra “Meu corpo, minhas regras”, muitas mulheres acusam quem faz esses alertas para a saúde de “gordofóbicos”.
Foi o caso do deputado federal Nikolas Ferreira; o parlamentar fez um comentário sobre um ensaio fotográfico da modelo Thaís Carla, pintada como Globeleza; na legenda da imagem, ele escreveu: “Tiraram a beleza e ficou só o Globo”. Quando a modelo o acusou e ameaçou processá-lo, ele respondeu: “Eu deveria ter tratado a obesidade como romance, como empoderamento, e não como doença. […] Onde já se viu, século 21 ter opinião própria, né?”
Em outro caso, que também envolvia a modelo, uma enfermeira pro processada ao dar um parecer médico acerca de uma fala de Thais em um podcast. A dançarina havia contado que não aprovou a abordagem médica ao longo de sua gravidez. Durante a gestação, um médico teria dito que ela apresentava uma gravidez de risco. Ao questionar o porquê ser classificada dessa forma, o profissional respondeu que isso se dava por conta do seu alto peso e que seriam necessários alguns exames. Thais alegou, então, gordofobia.
Então, a enfermeira Letícia Bastos fez um vídeo discordando de Thaís: “Na cabecinha louca dela, a médica foi gordofóbica porque classificou ela como grupo de risco (…) Acho que nunca vi tanta gente burra ao mesmo tempo falar. Se você está aplaudindo essas barbaridades que elas dizem, você também está contribuindo para a morte de alguém. As pessoas não devem se aceitar do jeito que são”. A enfermeira ganhou o processo movido por Thaís.
Outra pessoa que foi criticada por Thaís foi a atleta e modelo Maíra Cardi; Arthur Aguiar, hoje ex-marido de Maíra, participou da edição do BBB de 2022. Maíra comentava que se preocupava com ele por estar comendo muito pão, e isso poderia fazer com que ele engordasse. Então, Thaís chamou-a de gordofóbica: “Aquela blogueira fitness, ela não cansa de ser gordofóbica. Está lá preocupada se o marido dela, que está no ‘BBB, se ele vai engordar ou não. Exaustivo esse assunto. Estou cansada desse assunto, que vende discurso de opressão, falando que é para saúde (…) E ainda essa obsessão pelo corpo magro, invalidando toda a vida de uma pessoa gorda. O tempo todo. Isso me dá nojo “
Nos tempos em que a ciência tornou-se um bezerro de ouro adorado pela militância progressista, acusar quem dá orientações sobre saúde é um paradoxo.