Os brasileiros precisam se opor ao discurso mambembe do Barroso

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O ministro Luís Roberto Barroso fez na última quinta feira (17) seu discurso de despedida do cargo de chefe do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). E embora tenha exibido um tom pomposo, sua fala não foi muito elegante, pelo menos no que diz respeito ao trato com o presidente da República, Jair Bolsonaro.

Logo no início de sua fala, Barroso relatou o “desafio” que foi realizar as eleições de 2020, que era para ter sido cancelada por conta da pandemia do COVID-19: “Conseguimos neutralizar a inaceitável proposta, que começava a ganhar corpo, de cancelamento das eleições, que pretendia fazê-las coincidir com as eleições gerais de 2022.”

O pedido de cancelamento das eleições era perfeitamente plausível, já que outras atividades foram proibidas para a população, como frequentar estádios de futebol, casas de shows, e até lugares comuns de condomínios. Com isso, a população entendeu (com razão) que, se não poderiam conviver, também não precisariam votar.

Ao falar sobre “enfrentamento da desinformação”, Barroso exaltou o que chamou de “jornalismo profissional” e disse que antes da internet, o acesso à informação tinha um “controle mínimo de veracidade”:

“Antes da internet, a difusão de informações dependia, substancialmente, da imprensa profissional. Cabia a ela apurar os fatos e veicular opiniões com os filtros editoriais próprios à técnica e à ética jornalística. Havia, assim, um controle mínimo sobre a veracidade do que era publicado.”

Barroso foi mais audacioso: disse que a “imprensa profissional é um dos antídotos contra esse mundo da pós-verdade e dos fatos alternativos, disfarces para a mentira e as notícias fraudulentas”.

Fica claro que, para Barroso, uma notícia é apenas verídica quando publicada em veículos famosos e “tradicionais”, tratando com desrespeito profissionais que trabalham em mídias alternativas, levando informação sem o viés da mídia de massa.

Vale lembrar que Barroso, tal qual o ex-presidente Lula, defende o controle das redes sociais: “É preciso ter algum tipo de controle de comportamentos, conteúdos ilícitos e da desinformação que ofereça perigos para valores caros da sociedade como a saúde e a democracia”. As declarações do ministro foram dadas durante a mesa de abertura de seminário internacional sobre desinformações e eleições, realizado pelo TSE. 

Ao falar sobre uma maior participação das mulheres na política, Barroso relembrou seu discurso de posse, no qual disse que uma de suas metas era promover o empoderamento feminino.

Aqui, o trecho lido por ele próprio:

“Um dos objetivos da nossa gestão é o de atrair mais mulheres para a política e para pontos-chave da vida nacional. (…) Conquistas que incluem o direito à educação, liberdade sexual. direitos para a mulher não-casada, igualdade no casamento e acesso ao mercado de trabalho.

Em sua obra “Feminismo: perversão e subversão”, a escritora e deputada Ana Caroline Campagnolo explica que os interesses de homens e mulheres, no contexto geral, são distintos. Desde os primórdios da humanidade, os homens são os que se utilizam da força física para caçar, construir e proteger sua família. As mulheres, por outro lado, foram poupadas e foram mantidas longe do perigo, cuidando da casa, dos filhos, da agricultura familiar e tudo o mais que fosse necessário.

No que tange à mulheres na política, que seria quase que uma carreira executiva devido à extensa demanda de trabalho, muitas, embora qualificadas, evitam esses cargos por exigirem demais. “A maioria das mulheres não leva a vida exigida para se chegar aos cargos mais bem remunerados ou de maior influência.”

A escritora Phyllis Schlafly, em sua obra “O outro lado do feminismo”, explica:

“A maioria das mulheres não tem vontade de desempenhar o trabalho exigido para ganhar eleições; dirigir milhares de quilômetros, apertar as mãos de centenas de estranhos, comer frango de última categoria no jantar e participar de reuniões políticas todas as noites e fins de semana. E a maioria das mulheres certamente não quer se sujeitar a taques políticos que contestam sua integridade e as investigações de suas vidas pessoais e financeira.”

E a parte mais aguardada: quando Barroso ataca o voto impresso.

Em sua fala, aproveitou para alfinetar o presidente da República Jair Bolsonaro e o ex-presidente americano Donald Trump:

“Aqui no Superior Eleitoral, procuramos fazer a nossa parte na resistência aos ataques à democracia. Aliás, uma das estratégias das vocações autoritárias em diferentes partes do mundo, é procurar desacreditar do processo eleitoral, fazendo acusações falsas e propagando o discurso de que ‘se eu não ganhar, houve fraude’. Trata-se de repetição mambembe do que fez Donald Trump nos Estados Unidos, procurando deslegitimar a vitória inequívoca do seu oponente, e induzindo multidões a acreditar na mentira.”

O ministro desinforma. Além de mentir sobre o contexto eleitoral americano, que teve inúmeras suspeitas, disse que a discussão acerca do voto impresso é desnecessária. Pior: igualou voto impresso à voto em cédula, que são coisas completamente distintas. E ainda chamou de “solução inadequada para um problema inexistente”.

Não é o que diz um relatório do próprio TSE. Em novembro de 2018. um hacker relatou ao site Techmundo que invadiu o sistema do TSE, e que essa falha permitiu o acesso às urnas. Ele disse que conseguiu acessar dentro do sistema vários códigos-fontes, documentos sigilosos e credenciais, como o login de um ministro-substituto do TSE e de diversos técnicos de informática ligados à alta cúpula de tecnologia da informação do órgão.

A ministra do TSE da época, Rosa Weber, abriu inquérito para investigar se a fala do hacker era verídica. A Polícia Federal constatou que o hacker conseguiu acesso aos sistemas do TRE da Paraíba e do Rio Grande do Norte, estabelecendo conexões indevidas.

De acordo com o relatório do TSE, o hacker teve acesso ao portal de sessão do voto informatizado, onde está o código-fonte das urnas eletrônicas. Se o código-fonte for alterado, o sistema inteiro pode ser modificado, de maneira que a adulteração de votos torna-se possível. Ou seja, as urnas não são tão seguras como Barroso diz e o problema não é inexistente como ele afirma.

A palavra mambembe significa “inferior, ordinário, reles, insignificante”. Dado o conteúdo do discurso do ministro, fez jus ao termo e não há nada que se aproveite desta quase uma hora de fala. É de doer a cabeça, os ouvidos e fazer perder a sanidade.


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