Por que nos sentimos tão culpados quanto aos problemas a nossa volta?

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Já reparou que é extremamente comum a sensação de ser o culpado das mazelas a sua volta, que suas atitudes do dia-a-dia são as responsáveis pelo sofrimento alheio e que se você mudasse de postura e seguisse um código ético e moral diferente do seu, tudo seria melhor? Pois então, saiba que isso não é por acaso, a sementinha da culpa nos é plantada desde os nossos primeiros passos para que, quando chegarmos a vida adulta, estejamos carregando um grande carvalho em nossas mentes.

É difícil passar um longo lapso temporal sem ouvir frases como “enquanto você gasta R$ 4.000 com um iPhone, tem criança passando fome”, “enquanto você se preocupa qual roupa irá vestir, tem gente se preocupando se vai ter o que comer” ou a conhecida frase “você é privilegiado”. São sentenças de forte impacto emocional, te fazem sentir um desprezo pela pessoa que é, te fazem se olhar no espelho e imaginar que todos os seus desejos e vontades não passam de um produto de uma pessoa desprezível. O discurso emocional e carregado de belos princípios éticos e morais se espalha e começa a ser repetido por todos a sua volta, e o medo de se tornar um exemplo do que não ser cresce pouco a pouco. Quando você se toca, já não consegue mais escapar dele, nem sequer criar uma frente de resistência sem arcar com consequências pesadas, sejam externas ou internas.

O temor de sofrer retaliação por outras pessoas é forte. Ser chamado publicamente de egoísta, frívolo, fútil ou qualquer outro adjetivo que faça referência a rejeição do discurso samaritano é doloroso e mexe com seu meio social. Pior! O medo de sentir vergonha de si mesmo te inibe de descortinar novos pensamentos. A mente humana é capaz de criar um escudo contra si mesma, fazendo-a se prender a ideias e te fazer se sentir muito mal por meramente questioná-las. Por fim, coloca-se na conta do indivíduo problemas que ele não criou e nem tem como combater.

Apontam o dedo para o crítico sistema de saúde do Brasil e olham feio para você. Mas afinal, se é o Estado que regula fortemente o setor, super taxando-o e burocratizando a formação de médicos, produção de remédios, abertura de hospitais e produção de equipamentos, que culpa tem você?

Apontam o dedo para violência no país e te culpam. Mas se é o Estado que alimenta o crime organizado com suas regulamentações sobre o “mercado negro”, desviando recursos bilionários para os bolsos de bandidos, que culpa tem você? Apontam o dedo para os preços altos dos produtos e em seguida apontam para uma família pobre. Mas se é o Estado que aplica altos impostos na produção, circulação e importação de produtos e diminui a oferta, gerando assim uma distorção na linha de oferta e demanda, encarecendo os produtos, que culpa tem você?

A mais cínica de todas as acusações é: “você não pode reclamar da corrupção se você fura fila, avança sinal de trânsito ou não devolve troco a mais”. É como se uma espécie de elemental da corrupção fosse criado no momento de um ato anti ético ou imoral e se transportasse imediatamente para os gabinetes das esferas políticas do país. Só assim para explicar este argumento. E quando justificam a corrupção baseada no “jeitinho brasileiro”, ou seja, aquela forma de burlar os trâmites para se alcançar um fim? Em um país que te impede de ter sigilo bancário e te impede até de guardar dinheiro em casa, sufocando seus cidadãos de todas as formas possíveis, é óbvio que haverá uma válvula de escape.

Uma infração de uma pessoa não abre as portas para que outrem cometa infrações aos demais. E os indivíduos que infrações nenhuma cometeram? Quem não furou fila, não avançou sinal e não ficou com troco imerecido deve arcar com imoralidades alheias? O indivíduo é um animal sacrificável das vontades alheias?

O mais estarrecedor é o seguinte, toda esta culpa que recai sobre seus ombros está inserida em um sistema ao qual você sequer pode lutar contra. Quer boicotar este sistema? Certo, se você não quiser votar em nenhum candidato, alguém votará por você, afinal, nosso sistema é uma democracia de quórum. Quer combater políticos que fazem parte deste sistema? Prepare-se para ser preso, afinal, a Lei 1.802/53 trás um rol de “crimes de lesa a pátria”, onde preza pela soberania do sistema. Quer parar de financiar este sistema? Pois então policiais federais arrombarão a porta da sua casa, te arrastarão para dentro de uma viatura, te manterão preso conforme desejarem, leiloarão todos os seus bens para “pagar a dívida” e você será considerado um bandido depois de um humilhante processo, tendo sua vida arruinada.

O brasileiro é o que se pode perfeitamente chamar de “cego em tiroteio” vestindo uma camisa com escritos “Sou o culpado de tudo isso. Atirem em mim!”. É notório que você não é responsável pelos problemas a sua volta, afinal, você é meramente responsável pelos atos que provoca, não pelos atos impostos pelos demais. Sentir-se um tapete a ser pisado por uma horda de demagogos não é um produto do acaso, mas sim uma consequência de um processo previamente elaborado.

Quanto mais nos sentimos culpados, mais fáceis de sermos manipulados seremos. Desde muito pequenos somos adestrados a obedecer o sistema opressor que nos cerca. O mundo está cercado de sociopatas sedentos de poder que não hesitarão em transformar todos aqueles ao seu redor em tapetes a serem pisados. Nas salas de aula então, a corrupção das mentes dos jovens ocorre de forma sistemática: o professor de história comunista dá sua aula sobre “neoliberalismo yankee fascista opressor”, planta a sementinha da culpa no jovem, o faz se sentir um super homem para resolver aquele problema e pimba! Está formado mais um cidadão gado.


São mil e uma táticas usadas para nos transformar em engrenagens do sistema. A única maneira de lutar contra este aparato de coerção milimetricamente pensado para te atingir é se tornar um tapete de espinhos onde ninguém ouse pisar. As formidáveis palavras de Ayn Rand traduzem esta metáfora:

– Toda a sua vida o senhor vem sendo denunciado não pelos seus defeitos, mas pelas suas maiores virtudes. Vem sendo odiado, não por seus erros, mas por suas realizações. (…) Chamado de egoísta por ter coragem de agir com base no seu próprio julgamento e assumir sozinho a responsabilidade pela própria vida. Chamado de arrogante por ter uma mente independente. Chamado de cruel por possuir uma integridade inflexível. Chamado de antissocial por ter uma visão que o levou a descortinar novos caminhos. Chamado de implacável por ter força e autodisciplina para atingir seus objetivos. Chamado de ganancioso por ter o poder de criar riquezas. (…) Já parou para se perguntar – com que direito? Com base em que valores? (…) Pergunte a si próprio o que faz um código moral à vida de um homem, (…) e o que acontece com ele se aceita o padrão errado, segundo o qual o mau é bom. (…) A pior culpa é aceitar uma culpa imerecida.”. (RAND, Ayn. A Revolta de Atlas. São Paulo: Arqueiro, 1ª Edição, 2010. p. 129.).


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